Zagreb – Croácia

História

A região que hoje compõe a Croácia passou por inúmeros altos e baixos em sua história. Desde o Paleolítico Médio, foi palco de disputas, batalhas e guerras, recebeu refugiados, deportou e assassinou, foi invadida, conquistada, vendida e traída. E hoje, estabilizada, é um dos grandes destinos turísticos da Europa. Conversando com seus habitantes, percebe-se ainda um certo rancor em relação a seus vizinhos, mas a preocupação maior da população parece ser em tratar bem seus visitantes e fazer com que queiram voltar a turistear pelo seu país.

A costa da Croácia, banhada pelo Mar Adriático, é de uma beleza extrema. E nosso objetivo era conhecer com calma algumas das cidades mais importantes e pitorescas desse litoral. Porém, não poderíamos deixar de visitar sua capital, Zagreb. Assim, planejamos alugar um carro ali e fazer tudo a nosso tempo, o que incluiu uma parada no extenso Parque de cachoeiras Plitvice entre Zagreb e Zadar, nossa primeira parada litorânea. De lá, seguimos por Sibenik, Primosten e Trogir até Split, a capital da Dalmácia. Estivemos em Hvar e, no caminho até Dubrovnik, demos uma parada para almoçar em Neum, na Bósnia e Herzegovina.

Diário

Chegamos em Zagreb de trem, vindos de um dia inteiro de caminhada em Ljubljana, na Eslovênia. A viagem durou apenas 2 horas. Da estação ferroviária até nosso hotel, o Canopy, era uma caminhada curta, de 10 minutos. Foi lá que jantamos e nos recolhemos.

Nosso dia em Zagreb começou com um Free Walking Tour, o que já virou praxe em muitos lugares em que estivemos. Sempre a pé, encontramos nossa guia na principal praça da cidade, Trg bana Josipa Jelačića, em frente à estátua de Ban Josip Jelačić sobre seu cavalo. “Ban” era o nome dado aos governadores de províncias durante a Idade Média na região. E o senhor em questão foi um importante general austríaco, responsável por aquietar a revolução nacionalista na Hungria, e comandar o Reino da Croácia entre 1848 e 1859.

Praça Bana Josipa Jelačića

Fazia um calor tremendo e quase deu vontade de enfiar a cabeça na água da fonte Manduševac, ali mesmo na praça. A maioria das pessoas que iam seguir o tour se aglomerava sob a sombra da estátua equestre.

Nossa primeira parada foi no final da praça à esquerda, na maquete da cidade (Zagreb pozdravlja), onde se pode entender a divisão geográfica dos bairros e a localização de seus pontos de interesse. Zagreb é uma fusão de duas provínciais medievais, localizadas em colinas vizinhas: Kaptol, de uma população eclesiástica, e Gardec, laica. Unificadas em 1850, ainda há uma clara divisão entre a Cidade Alta, que manteve sua arquitetura medieval conservada, e a Cidade Baixa, que começou a ser construída no século XIX e compõe a parte mais moderna da região.

Maquete da cidade

Caminhando um pouco mais, chegamos à Catedral de Zagreb (Zagrebačka katedrala), dedicada à Assunção da Virgem Maria. Construída no século XI, ganhou suas atuais torres renascentistas apenas no século XVI. Porém, foi quase destruída com um incêndio no século XVIII, renovada e novamente acachapada por um terremoto em 1880. Desde então, está em constante renovação e seu relógio ainda mostra o horário daquele abalo sísmico. Ah, e está fechada para visitas há anos.

Catedral de Zagreb

Em frente à Catedral a única coisa que se pode apreciar é a escultura dourada do Monumento à Assunção da Virgem Maria.

Monumento à Assunção da Virgem Maria

Entrando na rua em frente à Catedral, está o Mercado Dolac, em cujas inúmeras barracas são vendidas pela manhã frutas, legumes, hortaliças, embutidos, carnes, artesanatos e souvenirs. Em um dos cantos dessa grande praça fica a escultura de Kumica Barica, de Stjepan Gračan, a figura de uma senhora com uma cesta sobre a cabeça, uma homenagem às feirantes locais.

Mercado Dolac
Escultura de Kumica Barica

Descendo as escadas a partir da escultura e virando à direita, seguimos pela rua Tkalčićeva, uma rua repleta de bares e restaurantes, um ótimo lugar para almoço ou jantar. Mais adiante há uma outra escultura, da novelista croata Marija Jurić Zagorka, primeira jornalista mulher do país e grande ativista pelos direitos femininos.

Rua Tkalčićeva
Escultura de Marija Jurić Zagorka

De lá, atravessamos a viela Krvavi Most que, apesar do nome (most quer dizer ponte), hoje é uma pequena rua asfaltada que cobre o que antes foi um córrego, que dividia as duas províncias conflitantes e que foram unidas na fundação de Zagreb. Seu nome, krvavi, quer dizer sangue, pois remonta aos constantes embates inglórios entre os habitantes dessas províncias.

A ponte, ou viela, chega numa rica rua (Pavla Radića) de lojas de roupas, souvenires e alguns museus interessantes, como o Museu da Selfie e das Memórias. Ali também fica a mais famosa loja de gravatas da cidade. Para quem não sabe, a origem das gravatas é daqui.

Rua Pavla Radića

Subindo essa rua, passando pela estátua de São Jorge, está o Portão de Pedra (Kamenita vrata), em cujo interior se firmou um templo de veneração à Virgem Maria, onde as pessoas deixam seus pedidos, orações e agradecimentos em forma de placas, papeis ou apenas orais.

Portão de Pedra

Ao passar pelo portão, na esquina há uma antiga farmácia, a Farmácia Municipal Zagreb Kamenita – Gornji Grad, que é praticamente um outro museu.

Farmácia Municipal Zagreb Kamenita

Seguindo essa rua abre-se uma ampla praça, a Trg Svetog Marka, onde foi construída no século XIII a Igreja de São Marcos. Seu estilo inicial era românico, mas foi reformada posteriormente em estilo gótico. Mas o que chama a atenção na realidade, além dela ter um respiro bastante razoável ao seu redor, é seu telhado colorido, com o desenho de dois enormes escudos de armas, um de Zagreb e outro dos antigos reinos da Croácia, Eslovênia e Dalmácia.

Igreja de São Marcos

Descendo a rua em frente à igreja nos deparamos com um museu bastante peculiar, o Museu das Relações Quebradas, que expõe em seu interior objetos e histórias de relacionamentos que se romperam, sejam eles românticos, familiares ou apenas de amizade. Esse vale uma rápida visita.

Museu das Relações Quebradas

O museu faz esquina com a praça Katarinin, da Igreja de Santa Catarina, que está colada na Galeria de arte Klovićevi Dvori, uma das mais importantes da Croácia.

Bem ali em frente está a torre Kula Lotrščak, que oferece aos turistas um espetáculo ímpar: todos os dias, ao meio dia, de uma janela lá em cima, um canhão volta à vida, dando um tiro barulhento que ecoa pela cidade. Em seguida, o autor do disparo aparece na janela, acena para os transeuntes, recebe aplausos, e fecha a janela. Planeje o seu passeio para estar lá nesse horário e depois visite o que ficou faltando.

Canhão acionado na torre Kula Lotrščak

Se tiver preguiça de subir o morro a pé, note que há um funicular (Uspinjača) que faz o trajeto – de poucas centenas de metros, diga-se de passagem. É um dos bondinhos de trajeto mais curto que já vi.

Uspinjača

Se optar por descer até a cidade baixa, vá pelo parque da Strossmayer Promenade. Dizem, aliás, que ali tem um pôr do sol sensacional, talvez seja um lugar para retornar no fim do dia.

Ah, uma das ruelas que dá nessa Promenade, chamada Stube Ivana Zakmardija, é repleta de grafittis, cartazes e chicletes grudados nas paredes. Não sei a origem mas taí uma história que precisa ser contada um dia por alguém.

Viela dos grafittis e dos chicletes

No fim do parque encontra-se uma das entradas (ou saídas) do Túnel Grič, construído durante a Segunda Guerra para servir de abrigo e armazenamento de munição. É um espaço sombrio, porém extremamente refrescante naquele sol intenso de verão. O túnel vai retornar à rua das lojas bem à frente da Ponte do Sangue, ao lado de uma grande loja de souvenirs.

Túnel Grič

Assim concluímos o tour pela Cidade Alta e seus pontos medievais. Mas a cidade oferece mais. Além de algumas estátuas escondidas e espalhadas pelos inúmeros bares e restaurantes na Cidade Alta, homenageando artistas e cientistas croatas, há uma série de museus diferentes, como o Museu de Nikola Tesla, Museu da Arte Naïve, Museu de Tortura, Museu das Ilusões, Museu dos Cogumelos, Museu dos Anos 80, Museu do Chocolate, Museu da Gravata ou o Museu da Ressaca.

Escultura do inventor e escritor Faust Vrancic
Escultura em homenagem ao croata Nikola Tesla

Na Cidade Baixa uma construção extremamente elegante e vívida é a do Teatro Nacional de Zagreb. De um amarelo intenso e cercado por um parque verde e florido, mesmo que não se pretenda assistir nenhuma peça ou conserto ali, a visita é imprescindível.

Teatro Nacional de Zagreb

Outro parque a leste dali, mas a 15 minutos de caminhada, é o verdejante Parque Zrinjevac, adjacente ao Parque Josipa Jurja Strossmayera, que cerca a Academia Croata de Ciências e Artes.

Parque Zrinjevac

E há também a Praça do Rei Tomislav, homenagem ao primeiro rei da Croácia que cerca o Pavilhão de Arte, uma construção de mais de 120 anos, mas que estava em reforma quando estivemos lá.

Praça do Rei Tomislav

Parque Nacional dos Lagos Plitvice

Passamos em Zagreb um dia inteiro e, na manhã do dia seguinte, alugamos um carro e partimos em direção à cidade litorânea de Zadar, parando no caminho no Parque Plitvice (Plitvička Jezera). A apenas 2 horas de carro de Zagreb, o parque oferece a seus visitantes uma dezena de possibilidades. Pelo tempo que tínhamos, resolvemos fazer uma das maiores trilhas, muito bonita, de 8.900 m entre lagos e cachoeiras. O plano era levar entre 4 e 6 horas, e acabamos fazendo em pouco menos de 5h.

A trilha que escolhemos seguir no parque, de 8.900m
Uma das inúmeras cachoeiras e lagos
Vista dos três lagos

Conclusão

Muita gente visita as cidades costeiras da Croácia e deixa de lado sua capital, mas Zagreb tem muito a oferecer, tanto em história, quanto em curiosidades.

Praticamente à mesma distância de Ljubljana, o Parque Plitvice é um dos vários passeios de dia inteiro que se pode fazer a partir da capital. Mas como estávamos indo em direção à costa, a parada ali foi perfeita, pois Zadar fica também a 2 horas do parque.

Leia o post sobre Zadar aqui.

Crédito das fotos: Fabio Tagnin

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