O caminho de Zadar a Split, na Croácia, é extremamente pitoresco. Deixamos um dia inteiro para fazer o curto trajeto, pois sabíamos que iríamos parar muitas vezes ao longo da estrada. Nesse post, falo sobre a cidade de Šibenik, a vila de Primošten e a fortaleza medieval de Trogir, antes de chegarmos em Split.
Šibenik
Famosa por sua Catedral e por ter sido parte de alguns cenários da série Game of Thrones, Šibenik é a única cidade na região fundada por croatas nativos, diferentemente de outras cidades na Dalmácia, centros de outras culturas. Šibenik também foi a primeira cidade no mundo a fornecer energia elétrica à sua população, há mais de 100 anos, por meio de um sistema de distribuição do Rio Krka, arquitetado por Nikola Tesla.
Além disso, é uma das poucas cidades no mundo a ter listados dois de seus monumentos na lista de Patrimônios da Humanidade da UNESCO, a Catedral de St. James (São Tiago) e a Fortaleza de St. Nicholas. Fica a apenas 80Km de Zadar e fizemos o trecho em mais ou menos 1h20min.
Ao estacionarmos na orla da cidade, a primeira grande construção que avistamos é a Catedral de St. James, construída entre 1431 e 1536 em uma mistura de estilos gótico e renascentista. Duas coisas incomuns chamam a atenção em sua fachada: suas paredes foram erguidas somente com pedras, sem cimento ou qualquer outro tipo de liga para fixá-las; e do lado de fora foram instaladas 71 esculturas de rostos humanos, representando os residentes da cidade na época de sua construção, numa época em que só se representavam em pedra figuras ilustres.


Em seu interior, decorações de arquitetura barroca, esculturas douradas, pinturas e um altar de madeira rebuscado se misturam num colorido arroxeado. Quem compra o ingresso para visitar a Catedral tem também direito a conhecer o Centro de Interpretação do Palácio de St. James-Galbiani, um museu interativo que conta a história da cidade e da construção centenária.

Logo à frente da porta principal da Catedral, ergue-se a estátua de Juraj Dalmatinac, um escultor veneziano cujas contribuições para a construção da Catedral foram as mais significativas. Mas se olharmos bem, há algumas outras esculturas icônicas a serem descobertas, como a do Garoto com seu Guarda-chuva, de Kažimir Hraste.


Um outro edifício de destaque na Praça da República da Croácia é a Câmara Municipal/Prefeitura, um sobrado de estilo veneziano com arcos e enormes janelas superiores. Sua fachada foi reconstruída nos moldes originais do século XVI, depois de ser danificada durante a Segunda Guerra Mundial.

Depois de visitar a Catedral e sua praça, o melhor programa da cidade é caminhar por suas estreitas ruazinhas, namorar as vitrines das lojas, as flores nos terraços das casas, os becos à meia luz, ou se embrenhar por algum museu, igreja, monastério ou restaurante.


Um ponto de parada interessante é na Paróquia Ortodoxa (Pravoslavna Crkvena Općina), para admirar e fotografar seu interior.

Depois, basta seguir subindo os degraus em direção à Fortaleza de St. Michael. A cidade tem outras três fortalezas que podem ser visitadas, St. Nicholas, St. John e Barone. Mas a mais perto do centro é a de St. Michael. Ali dentro há um museu com ferramentas e equipamentos em uso no passado, assim como artefatos e textos que contam a história da fortaleza e da cidade. Muita gente paga a entrada dali só pela vista da cidade e do mar, mas se não fosse essa fortaleza a cidade de Šibenik poderia não existir – por sua localização privilegiada, ofereceu proteção contra invasões externas e impediu algumas vezes que a cidade fosse conquistada.
No caminho para a fortaleza estão os Jardins Mediterrâneos Medievais do Monastério de São Lourenço. A entrada fica um pouco escondida, mas há placas indicando como chegar lá. Como tem um bar/restaurante, pode-se comprar uma bebida e ter o direito de caminhar pelas passarelas entre as flores e hortaliças medicinais, ou pagar apenas a entrada sem consumir nada. Os jardins não têm nada demais, na verdade, mas diz a história que foram abandonados por 100 anos e replantados em 2007 nos moldes originais.
Uma outra atração da cidade é a sua orla, na beira do mar Adriático. Além da vista da cidade velha e da Catedral, há por ali diversos cafés, restaurantes, bares e veleiros apoitados. No fim, Šibenik foi uma ótima primeira parada em nossa jornada de Zadar até Split, uma que vai ficar na memória, principalmente pelo dia bonito e quente que fazia.
Ah, não chegamos a visitar o Parque Nacional de Krka, pois já havíamos estado no Parque Nacional dos Lagos de Plitvice. Mas quem não tiver visto Plitvice, pode de Šibenik fazer um bate e volta a Krka, que tem bonitas cachoeiras.
Primošten
A cidade de Primošten foi uma surpresa em nosso caminho. Era uma parada opcional, pois queríamos ir a uma praia e relaxar. E acabou nos prendendo por algumas horas, até quase o pôr do sol. Só fomos embora porque ainda queríamos parar em Trogir antes de chegarmos em Split.
Situada a cerca de 30Km de Šibenik, a cidade velha fica em uma península, conectada ao continente por uma pequena faixa de areia. Curiosamente, Primošten foi construída inicialmente em uma ilha, cinco séculos atrás. O povo, fugindo dos turcos, fixou-se na ilha de Gola Glava, cercou-a de muralhas e construiu uma ponte de madeira ligando-a ao continente. A ponte era levantada em caso de perigo e é justamente daí que vem o nome da cidade: premošten tem como radical “most” que significa ponte. Anos depois, quando o perigo da invasão passou, a ponte foi substituída por um aterro, tornando o local uma península.
A cidade hoje, na realidade, é composta por duas penínsulas que formam um desenho geográfico que parece com as duas orelhas de um coelho (perdoem a fraca comparação). Imaginem, ainda, que as duas praias mais famosas estejam uma entre as duas orelhas e outra do lado de fora de uma delas (a comparação tá ficando cada vez pior).
A praia Velika Raduča foi onde iniciamos nossa visita. Tomamos um belo banho de mar, calçados de sapatilhas que nos protegiam das pedras, usando máscaras e snorkels que havíamos trazido para tentar enxergar alguns peixes. Depois, relaxamos e captamos um pouco de energia solar. A essa altura o apetite começou a se manifestar.

Recolhemos nossos equipamentos e caminhamos até a praia ao lado, Mala Raduča, que dizem ser uma das dez praias mais bonitas da Croácia – não vamos comparar com as do Brasil. É bem movimentada, com brinquedos aquáticos, bóias e escorregadores. E em sua orla há diversos restaurantes, num dos quais sentamos para almoçar.


Com a barriga cheia, visitamos a parte antiga de Primošten , entrando pelo Portão da Cidade Velha e subindo suas estreitas ruazinhas de pedra. Como na maioria das cidades costeiras da Croácia que visitamos, as casinhas hoje abrigam lojas de roupas, souvenires, sorveterias e também ainda servem de moradia. Andar por ali é um charme.


No topo da colina fica a Igreja de São Jorge (Crkva sv. Juraj), construção de 1681, cercada de um velho cemitério. É lá que muita gente vai para apreciar o pôr do sol, pois a vista da baía é fantástica. Mas não era hora ainda. De lá avistamos uma espécia de “obelisco” sobre um morro distante e resolvemos descobrir o que era.

De carro, saímos da cidade pela estrada e logo entramos numa pequena e sinuosa ruazinha, que nos levou ao estacionamento do que é um dos maiores (mais altos) templos dedicados à Virgem Maria do mundo. A estátua da Nossa Senhora de Loreto, desenhada pelo arquiteto Aron Varga, com mosaicos do artista Milun Garcevic, tem 17 metros de altura e paira acima da cidade de Primošten como o Cristo Redentor no Rio de Janeiro. Devotos e turistas que por ali passam depositam suas moedas pelas fendas da construção, talvez como dízimo por seus pecados, ou incentivo por seus desejos.


Independentemente da devoção ou não, a vista que se tem da ilha/península lá embaixo é de tirar o fôlego, essa sim com o início de um pôr do sol no horizonte.


Trogir
Mais 30Km de estrada e chegamos em Trogir para ver o pôr do sol ‘de verdade’ e nos enfiarmos em suas ruazinhas medievais. A cidade velha, localizada numa pequena ilha, é uma das mais charmosas e uma das mais antigas da costa da Dalmácia. Foi fundada pelos gregos no século III a.C. e segue tão conservada que é considerada por muitos um museu a céu aberto, exibindo em sua arquitetura traços românicos, góticos, barrocos e renascentistas. A ilha toda é um Patrimônio da Humanidade da UNESCO.
Deixamos o carro em um estacionamento no continente, ao lado da ponte de carros que o liga à pequena ilha, e entramos na cidade velha pelo Portão Medieval. Atravessamos a cidade até a Promenade (Riva) e seguimos à direita até o Castelo Kamerlengo, pois o sol já estava se pondo. O castelo não tem grandes atrações, a não ser uma grande torre, cuja vista dá para uma das várias marinas de Trogir. Ah, e para um enorme campo de futebol de grama. Passamos ali algum tempo fotografando a vista.




Ao escurecer, descemos e fomos passear pela agitada Riva e pelas ruazinhas da cidade.

Depois do castelo, a maior construção de Trogir é a Catedral de São Lourenço. Longe de ser a única igreja da cidade, suas primeiras fundações datam do século XIII, mas para chegar ao formato atual levou algumas centenas de anos e uma mistura de estilos arquitetônicos. A parte mais ‘diferente’ desta catedral é sua porta de entrada. Conhecida como Portal de Radovan, por conta de seu autor croata, Mestre Radovan, é de uma riqueza de detalhes esculpidos incrível.


É possível subir os estreitos e escuros degraus de sua torre, para ter uma vista da cidade, mas a vista do castelo é melhor, acreditem. Em frente à catedral está também o Palácio da Prefeitura (Palácio Cipiko), contruído no século XV por uma família aristocrata de Trogir de gostava de janelas góticas. E a Torre do Relógio, erguendo-se sobre as mesinhas ao ar livre, que convidam os visitantes a um delicioso jantar ou uma bebida refrescante depois de um dia de muita imersão cultural.

Mas o charme da cidade está mesmo no agito de suas ruelas, variedade gastronômica e quantidade de lojinhas. Dá pra passar algumas horas rodando por ali, pena que já não tínhamos mais tanto tempo.



Conclusão
O caminho entre Zadar e Split é bastante rico e diversificado. Pode-se seguir a estrada direto de uma cidade a outra, mas iria perder-se o melhor da costa da Dalmácia, que são suas preciosidades escondidas.
Seguimos para Split, vem junto…
Crédito das fotos: Fabio Tagnin