História
Parte da Iugoslávia desde 1929, a Eslovênia tornou-se um país independente somente em 1991 e ingressou na Comunidade Europeia em 2004. Da herança iugoslava, manteve algumas minorias sérvias, croatas e bósnias. Por ter mais de metade de seu território formado por florestas, a preservação do meio-ambiente é uma das principais preocupações de sua população. Sua capital, Ljubljana (o j é pronunciado como i em esloveno), é uma cidade diferente. Romântica, artística, delicada e cheia de vida. Passamos lá um dia e meio e tivemos uma surpresa atrás da outra, todas bastante agradáveis.
Roteiro
Chegamos de trem, vindos de Viena, e fomos direto ao apartamento que reservamos, a uns 3 quarteirões da estação. Fomos incrivelmente bem recebidos e, uma vez acomodados, já saímos para passear e conhecer a Cidade Velha ao entardecer. Caminhamos todo o dia seguinte pelas ruas da cidade e, no fim do dia, tomamos um trem para Zagreb, na Croácia.
Diário
Situada na margem leste do rio Liublianica, entre a Ponte Tripla (Tromostovje) e a Ponte de Santiago (Šentjakobski most), a cidade velha de Ljubljana vai da Mestni trg (Praça do Município), passando pela Stari trg (Praça Velha) – o núcleo do centro histórico medieval de ruas de paralelepípedo e lojas de fachadas em madeira colorida – e desemboca na Gorniji trg (Praça Alta). Foi ali, no sopé da colina onde se ergue o Castelo, que a cidade de Ljubljana nasceu.

Rio Liublianica
Entramos na vida da cidade pela Praça Prešeren, que tem seu nome em homenagem ao maior poeta esloveno, France Prešeren. Responsável pelo poema Zdravljica, que deu origem ao Hino nacional Esloveno, France escrevia sobre amor e, como todo poeta romântico, tinha uma musa inspiradora, Julija. O problema é que seu amor por ela nunca foi correspondido. E para representar essa situação, sua estátua em um canto da praça mira no outro canto a fachada de uma casa, onde sua musa morava. Na fachada, está esculpida a figura de uma mulher à janela, como se estivesse observando a estátua de Prešeren e, sob a janela, está escrito “Primicova Julija”.

Estátua em homenagem ao poeta France Prešeren

Julija Primicova, a musa do poeta
Adornando a praça está a Igreja Franciscana da Anunciação, com sua fachada cor de rosa e duas torres laterais. E em frente, a famosa Ponte Tripla (Tromostovje) transporta os pedestres e ciclistas para o interior da cidade velha e arredores do Castelo de Ljubljana. A ponte do meio é a mais antiga das três, e era o único acesso à cidade na antiguidade. Mas para ajudar a desafogar o trânsito na cidade, quando ainda eram permitidos carros por ali, o famoso arquiteto esloveno Josip Plečnik projetou as outras duas pontes, somente para pedestres. Hoje não circulam mais carros pela cidade velha.

Igreja Franciscana da Anunciação

A Ponte Tripla, com o Castelo iluminado ao fundo

Busto do arquiteto esloveno Josip Plečnik
A primeira outra ponte a leste da tripla é a Ponte do Açougueiro (Mesarski Most), uma das mais controversas. Ela liga a margem Petkovškovo nabrežje às colunas do Mercado Central, onde antigamente se alinhavam as barracas dos açougueiros. Josip Plečnik, o arquiteto da cidade, havia idealizado uma ponte muito mais majestosa ali, mas que nunca foi construída. A ponte atual é muito mais simples, mas tem seus adornos. Além de umas esculturas que parecem carcaças de piranha sobre o parapeito da ponte, sob eles os cabos de aço estão cheios dos polêmicos cadeados do amor. Na verdade, nem as carcaças foram poupadas…

Esculturas das “carcaças”
Ainda no caminho da ponte, saltam à vista algumas obras do escultor Jakov Brdar, como Prometeus correndo após sofrer o castigo por ter dado o conhecimento do fogo ao Homem, ou Adão e Eva, envergonhados e banidos do Paraíso, caminhando em direção à Catedral da cidade. Bem no meio da ponte, ainda há um Sátiro atemorizado com uma das mãos para cima.

O Sátiro, e os cadeados do amor
A segunda ponte, talvez a mais famosa, que também dá na cidade velha, é a Ponte do Dragão (Zmajski Most). Está adornada nos quatro cantos com dragões, criaturas que se tornaram símbolo da capital eslovena graças a seu autor, Jurij Zaninović, que a idealizou em 1901, quando a Eslovênia ainda fazia parte do Império Austro-Húngaro. O conjunto das estátuas é acompanhado de uma série de grifos decorando os postes de iluminação. Reza uma das inúmeras lendas que, quando uma virgem atravessa a ponte, os dragões abanam a cauda. Não vimos elas se mexerem.

Um dos quatro dragões
Atravessando uma das pontes, chegamos no Mercado Central (Glavna trznica), que conta com barraquinhas ao ar livre, que vendem comida, frutas, legumes, flores e artesanato. Há também uma parte fechada, dentro do edifício ao lado, com lojas de queijos, frios, pães, mel, embutidos, carnes e peixes. E na arcada coberta ao longo do rio estão instalados alguns cafés, pastelarias e outras barracas de souvenirs e artesanato.

Arcada coberta do Mercado Central, com torre da Catedral atrás
Atrás do mercado fica a Catedral de Ljubljana, ou Igreja de São Nicolau. Com sua fachada amarela simples e adornada por duas torres simétricas e uma cúpula esverdeada, esconde em seu interior um estilo barroco de dourados e cremes, com pinturas coloridas e detalhadas. A obra é da primeira metade do século XVIII e foi construída sobre os restos de outra igreja românica, datada de 1282.
Em uma das laterais da Catedral, há uma Porta de metal esculpido, já do século XX, que conta a história de Ljubljana. No topo se vê o Papa João Paulo II, primeiro Papa de origem eslava (nasceu na Polônia), e mais abaixo o Bispo Irenaeus Frederic Baraga, segurando um livro com a imagem de um índio na capa. Baraga foi um missionário esloveno, que viveu muitos anos na América do Norte, entre os índios, e apresentou aos europeus a história da princesa Pocahontas.

Porta da Catedral de Ljubljana
Do outro lado da catedral fica a principal rua da cidade velha e, praticamente em seu centro, a praça municipal da cidade, Mestni Trg. Composta de edifícios barrocos coloridos, ali há de tudo: lojas, bares, restaurantes e museus. Em sua área mais larga, foi instalada em 1751 uma fonte, que atualmente foi relocada para a Galeria Nacional da Eslovênia, deixando uma répica em seu lugar. A Fonte Robbov (Robbov vodnjak) ou Fonte dos Três Rios Carniolanos foi encomendada ao escultor italiano Francesco Robba, que buscou inspiração na Fontana dei Quattro Fiumi, na Piazza Navona, e na Fontana dei Pantheon, ambas em Roma. Seguram os jarros d’água três deuses, despejando os três rios eslovenos: Ljubljanica, Sava e Krka, e de quebra ainda representam a união das três tribos Carniolanas que originaram o povo esloveno.

Fonte Robbov, com a Catedral lá atrás
Quase em frente à fonte está a “Casa da Cidade” (Mestna Híša), a Câmara Municipal, construída em 1484. Se seguíssemos a ponte tripla, era lá que iríamos parar. Na Câmara Municipal, nossa guia disse que era para “passar longe para não sermos roubados”. Será assim no mundo todo? A fonte original já levaram dali…
Seguindo essa rua princpal na direção sul, chegamos a outra praça charmosa, a Gonji trg, ornada com a Fonte de Hércules e cercada deedifícios em tons pasteis. Ali fica também um restaurante, Druga Violina, cujos funcionários são todos pessoas com alguma deficiência. Tentamos comer ali, mas justamente naquela hora ele estava fechado.

A praça da Fonte de Hércules
Muitos caminhos levam ao Castelo de Ljubljana (Ljubljanski Grad). Dependendo de onde estiver na cidade velha, qualquer ruazinha subindo a montanha vai terminar ali. Pode-se chegar de carro, sem passar pelo centro antigo, mas a maioria das pessoas faz o passeio todo a pé, pelas ruas Reber ulica ou pela Ulica na Grad. Ou sobe de funicular, cuja estação fica a leste da Catedral, perto do Mercado Central. O funicular é pago, mas não se gasta nada para acessar o pátio interior do castelo, ou suas muralhas. Dá para apreciar tranquilamente a vista panorâmica de lá de cima, ou ver um bonito pôr do sol. Já para se visitar a prisão, a Capela de São Jorge, ou o museu de marionetes, é preciso adquirir um ingresso.

Castelo de Ljubljana

Funicular do Castelo
Do lado de lá do rio
Fora da cidade velha, é interessante visitar a Praça do Congresso, rodeada de edifícios governamentais, a sala de espetáculos da Orquestra Filarmônica, a Universidade de Ljubljana e a Igreja da Santíssima Trindade.

Praça do Congresso, com edifício da Orquestra Filarmônica (amarelo) e Castelo

Universidade de Ljubljana

Igreja da Santíssima Trindade
Mais ao sul, na Novi Trg, está o bonito edifício de tijolos da Biblioteca Nacional e o Museu da Cidade (Mestni muzej Ljubljana), com descobertas arqueológicas e história do desenvolvimento local.

A praça Novi Trg com a Biblioteca Nacional lá no fundo à esquerda
Por fim, na rua de trás, a Križevniška, há um mini teatro e uma Sinagoga.

Križevniška ulica
Partindo pra praça Prešeren, a rua Miklošičeva abriga o edifício do Banco Cooperativo de Negócios, também chamado de (Ivan) “Vurnik House” nome do arquiteto que o desenhou em 1921. É um dos edifícios mais pitorescos e famosos de Ljubljana, por ser um dos melhores exemplos do estilo nacional arquitetônico esloveno.

Vurnik House
Conclusão
A cidade de Ljubljana é muito charmosa, vale uma passada qualquer que seja o caminho que se esteja fazendo entre a Áustria, Hungria ou Croácia. Foi o que fizemos neste roteiro, saindo de Viena de trem até a Eslovênia e tomando um outro trem em direção a Zagreb, na Croácia.
Veja aqui a continuação da viagem, que ainda tem 10 dias na Croácia, onde visitamos Zagreb, o Parque Plitvice, Zadar, Sibenik, Primosten, Trogir, Split, Hvar e Dubrovnik.
Crédito das fotos: Fabio Tagnin