Qualidade do ensino é função do salário do professor?

Publicado por Fabio Tagnin em 17 de março de 2009 no Blog de Educação Digital da Intel.

Pesquisa divulgada nesta segunda-feira (16) aponta que os brasileiros continuam insatisfeitos com o ensino público e põem a culpa na falta de motivação dos professores devido ao baixo salário que recebem do Governo. Realizada pelo Ibope para a CNI (Confederação Nacional da Indústria), em parceria com o movimento Todos Pela Educação, a pesquisa revela ainda que apenas 9% dos entrevistados em todo o Brasil acreditam que os principais problemas da educação no País são a baixa qualidade do ensino e o fato de os alunos não estarem aprendendo. A falta de segurança e a presença de drogas nas escolas são apontados como segundo maior problema, por 17% dos entrevistados.

A reflexão a que nos leva a pesquisa versa sobre os investimentos feitos pelo Governo na Educação como um todo. Enquanto 5% dos entrevistados afirmam que a precariedade de equipamentos e condições gerais da escola contribuem para o baixo nível de aprendizagem, outros 4% apenas acreditam que a falta de computadores e a exclusão digital constituem o calcanhar de Aquilles do sistema educacional brasileiro. Ou seja, só colocar o computador na escola não é suficiente para melhorar a qualidade de ensino.

Em maior ou menor grau, todos os problemas listados nas respostas da pesquisa são relevantes. Todos têm influência direta ou indireta na qualidade do processo de ensino e aprendizagem. A falta de professores, apontada por 12% dos pesquisados, ou a falta de escolas (15%) são fatores óbvios. Professores desqualificados e despreparados (11%) também. Mas boa parte da população acredita que a educação no Brasil está melhorando, 47% em ritmo lento e 13% em ritmo acelerado. 23% acredita que está estagnada e 15% acham que está mesmo piorando – só no Sudeste, ou em capitais e periferias, essa porcentagem sobe acima de 20%.

É interessante notar também que praticamente ninguém, ou apenas 1% dos entrevistados com idade entre 40 a 49 anos acredita que a falta de respeito dos alunos com os professores, ou mesmo alunos indisciplinados constituem um problema. Será que isso significa que os alunos estão motivados, ou isso é um desvio da amostra? Essas mesmas pessoas, nessa faixa etária, aceitam a culpa e dizem que a falta de participação dos pais na vida escolar dos filhos é um dos problemas (1%). Faz sentido.

A pesquisa vai além do sistema e mostra que os entrevistados estão insatisfeitos com sua própria qualificação para atuação na área profissional (40%) ou muito insatisfeitos (5%). 49% estão satisfeitos e apenas 6% muito contentes com suas escolhas e oportunidades. A falta de ensino técnico profissionalizante é apontada como fator problemático por apenas 4% dos pesquisados. Faltam oportunidades, cursos de qualificação profissional ou tempo para estudo?

Com a evolução do ensino à distância, hoje pipocam cursos de extensão e aperfeiçoamento profissional, oferecidos por universidades e outras instituições. Muitas Secretarias de Educação oferecem hoje programas de formação continuada para seus professores, sejam presenciais ou online. Outros programas de governo dão descontos e financiam a compra de computadores, para que os professores possam acessar vastas bibliotecas de livros e cursos na internet. Mas será que isso é insuficiente?

Parece que para os professores o que falta é motivação financeira. Para os que trabalham em duas ou três escolas, em dois ou três turnos, e têm que conciliar o planejamento das aulas, sua própria formação continuada, a dedicação a seus alunos, e a vida pessoal, talvez. Mas para aqueles que se interessam em aprefeiçoar seus métodos, em inovar dentro da sala de aula, em cativar os estudantes, não basta apenas ter um bom coração. É também uma questão de sobrevivência. Pelo menos é o que os brasileiros acham.

Contudo, a motivação intrínseca ao ‘ser professor’, aquela guiada pelo aprendizado sustentável, pela realização do aluno, parece ser bem mais importante. E boa parte dessa motivação vem da formação. O interesse dos professores pelos critérios higiênicos – pelos recursos didáticos, livros, mapas, guias, ferramentas, áudio e vídeos – talvez esteja ultrapassado. Não como um item a ser desprezado, mas relegado ao segundo plano em decorrência de interesses mais gerais. O magistrado, a licenciatura, o ensino superior deveriam dar conta de dar ao professor que irá atuar no ensino público uma formação coerente e sólida, que o torne independente na busca por recursos didáticos, com o objetivo de enriquecer seus métodos de ensino.

Hoje fala-se muito em oportunidades de troca de conhecimento com outros professores, na criação de conteúdo, em colaboração, no lidar com o excesso de informação, em resolver problemas complexos. Os alunos precisam seguir absorvendo e criando conhecimento, mas os professores são parte fundamental desse processo e precisam continuar fazendo sua mágica. Junto com pais e mães, devem participar ativamente nos estudos das crianças e criticar o sistema com o intuito de melhorar sempre a qualidade da educação, mesmo que ainda haja obstáculos econômicos e políticos a serem transpostos durante o processo.

Leia a íntegra da pesquisa clicando aqui.