Parreiras no Valle do Uco

Valle do Uco – Argentina

Em junho de 2023 fizemos uma viagem fantástica ao Valle do Uco, na região de Mendoza, na Argentina. Foram apenas 7 dias, mas intensos na convivência social, no consumo de vinhos e na ótima comida. Pegamos um vôo direto do aeroporto de Guarulhos em São Paulo até Mendoza e, de lá, nos hospedamos no vale e visitamos diversas vinícolas locais. Já havíamos visitado a região de Mendoza e Lujan de Cuyo antes, em julho de 2007, então resolvemos conhecer essa área nova, cujo maior desenvolvimento foi posterior à nossa viagem inicial.

O Valle do Uco fica a 80Km ao sul da cidade de Mendoza e é a região produtora de vinhos mais nova da província. As paisagens são lindas, e a altitude de até 1.200 metros acima do nível do mar favorece a vinificação de altitude de uvas como malbec, merlot, pinot noir, semillon e torrontés.

Nosso planejamento contou com a ajuda de uma guia local muito especial, a Andrea (veja seu Instagram). À medida que eu ia destacando as vinículas que queria visitar, ela me dava dicas do que ver e do que não fazer. E depois, já no vale, nos acompanhou em todas elas, com uma van e motorista que nos levaram para lá e para cá, para podermos curtir os vinhos sem nos preocuparmos com a direção. Sempre de bom humor e muito prestativa, também nos ajudou com mudanças de última hora e ajustes de horários quando esticávamos um pouco o programa anterior.

Dia 1 – São Paulo > Mendoza (Los Toneles, Susana Balbo)

Pegamos um vôo às 7:20 da manhã em GRU, que nos deixou em Mendoza pouco depois das 11:00. Ali nos esperava a guia Andrea, que nos recebeu carinhosamente e nos levou de van até o restaurante Abrasado, da Bodega Los Toneles, a 25min do aeroporto. Havíamos combinado já de trocar dólares por pesos ali mesmo, com um contato que haviam nos indicado. Pelo valor do câmbio, cada um de n´ós saiu com um saco de papel pesado, em notas de mil pesos, que tivemos que levar conosco todo o tempo e ir desovando nas degustações. A situação do câmbio na Argentina lembra bastante nosso período antes do Real, com a diferença que aqui no Brasil os zeros eram “cortados” vez ou outra.

Os pesos do grupo todo juntados numa pilha

O restaurante Abrasado é bem sofisticado, um lugar bem decorado, com garçons “malabaristas” bem humorados. O menu já estava escolhido e comemos muito bem. A degustação dos vinhos acompanhou os pratos e as combinações eram de encher os sentidos! Adoramos o vinho Margarita para los Chanchos (malbec). Saímos plenos e muito satisfeitos com nossa primeira refeição/degustação na cidade.

Restaurante Abrasado, na bodega Los Toneles

Em seguida, rumamos à bodega Susana Balbo, a uma meia hora de lá. Sentamo-nos no jardim para beber mais algumas taças da linha Crios e curtir as paisagens locais de lagos, parreiras e árvores.

Parreiras da vinícola Susana Balbo

A vinícola Susana Balbo

Com a tarde começando a cair, seguimos nossa rota para o Valle do Uco por mais uma hora e meia, até chegarmos no nosso hotel, o maravilhoso La Morada Lodge. Ali havíamos já reservado um chalé muito espaçoso com 2 suítes, sala, cozinha e varanda com churrasqueira, para acomodar 2 casais. Foi a melhor escolha que poderíamos ter feito. As fotos falam por si.

Chalé com 2 suítes no La Morada Lodge

As salas de jantar e de estar com lareira

Uma das suítes

O banheiro da suíte

Dia 2 – Valle do Uco (DiamAndes, Monteviejo)

No café da manhã riquíssimo, servido na mesa, mais surpresas com o nascer do sol e as incríveis media lunas argentinas. Não sabíamos se comíamos ou se saíamos a andar pelos arredores para sentir na pele todo aquele deslumbre.

A casa principal do restaurante do La Morada Lodge

Vista da nossa mesa no restaurante, com as montanhas nevadas ao fundo

Lá pelas 10:30 nossa guia Andrea veio nos buscar, para visitarmos a primeira vinícola do dia, a Bodega DiamAndes, a 50 minutos do nosso hotel. Havíamos reservado já a degustação Clos de Los Siete, às 11:30.

Todas as reservas de degustação, aliás, foram feitas com antecedência online pelo site das vinícolas ou pelo WhatsApp divulgado por elas. Sempre o atendimento foi muito cordial e atencioso, mesmo com algumas mudanças que tiveram que ser feitas, ainda na fase de planejamento, por conta de alguma vinícula não poder nos atender no horário que queríamos.

Barris de repouso dos vinhos na DiamAndes

A vista da sala de degustação

Dependendo do tipo de terreno, que é bastante desigual, uma uva diferente

Dependendo do tipo de terreno, que é bastante desigual, uma uva diferente

O Clos de Los Siete, como o nome indica, é uma reunião de sete dos châteaux mais prestigiosos da região, que resolveram investir numa única propriedade no Valle do Uco para plantar suas vinhas. A Bodega DiamAndes, da família Bonnie, e a Bodega Monteviejo, da família Péré Vergé-Parent, são dois deles.

Depois da visita às instalações da vinícola DiamAndes, nos sentamos para uma degustação deliciosa, acompanhada de queijinhos e salames. Experimentamos o L’Argentin de Malartic (rosé), DiamAndes de Uco (malbec, cabernet-sauvignon) e Grande Reserve (malbec-cabernet).

Isso só serviu para nos abrir o apetite, e seguimos para a segunda experimentação do dia, na Bodega Monteviejo, acompanhando o almoço. A comida ali estava maravilhosa, regada aos bons vinhos Petite Fleur (torrontés e blend tinto), Linda Flor (malbec) e Festivo (rosé). O cuidado na aparência dos pratos só poderia ter um sotaque francês!

Restaurante da Bodega Monteviejo

Bodega Monteviejo

Bodega Monteviejo

No final do dia, retornamos ao hotel, curtindo o pôr do sol, que parecia que botava fogo nas nuvens do caminho.

Pôr do sol e seu efeito colorido nas nuvens

Dia 3 – Valle do Uco (Domaine Bousquet, La Azul, Andeluna

Tomamos café mais cedo para pegar 1 hora de estrada até a Bodega Domaine Bousquet, para a degustação das 10:00. Ali, a experimentação veio antes da visita às instalações da vinícola. Tomamos o Alavida (malbec), Partners in Crime (malbec), Ameri (malbec), e os orgânicos Gran-Cabernet-Sauvignon e Gran-Chardonnay, ambos com assinatura da Anne Bousquet.

Os tonéis de aço e concreto da Domaine Bousquet

Saindo de lá já um pouco “borrachos”, em 5 minutos de estrada chegamos na Bodega La Azul, onde reservamos o almoço. Enquanto esperávamos o álcool evaporar e a fome bater forte, aproveitamos para tirar umas fotos do grupo no jardim. Quando a mesa ficou pronta, já nos serviram de entrada umas deliciosas empanadas e pãezinhos feitos no forno a lenha. A degustação foi composta de 3 vinhos, acompanhando os pratos: um malbec, um cabernet-sauvignon e um reserva.

Bodega La Azul

Depois da vasta refeição, neste dia ainda havíamos reservado um outro experimento ao pôr do sol, numa bodega vizinha, a Andeluna. Tivemos bastante tempo para digerir, entre uma e outra, passando mais um tempo nos jardins da La Azul, e depois entre as vastas parreiras da Andeluna, antes de iniciarmos a terceira degustação do dia que, nem sabíamos, vinha acompanhada de deliciosas comidinhas também! Já pelo andar da carruagem, optamos por beber apenas um malbec e muita água. Infelizmente, o prometido pôr do sol teve que ficar para outro dia, porque um pouco antes o tempo nublou, esfriou e não deu pra ver nada. 🙁

Acompanhamentos da degustação ao pôr do sol

Bodega Andeluna

Parreiras da Andeluna

Nem é preciso dizer que chegamos ao hotel fartíssimos e prontos para capotar na cama. Foi um dia catártico!

Dia 4 – Valle do Uco (Piedra Infinita, Gimenez Riili)

Ainda bem que no quarto dia pudemos acordar mais tarde, pois a guia viria nos buscar apenas às 11:00. Em uma hora e meia estávamos na Bodega Piedra Infinita, a nova da Zuccardi. No tour pelas instalações, pudemos testemunhar as diferentes composições do solo em uma mesma área, e aprendemos um pouco mais sobre quais uvas plantar em que tipo de terreno.

Solos e suas características

Solos e suas características

Finca Piedra Infinita

Restaurante da bodega, onde não comemos

Tonéis de concreto para repouso dos vinhos

Ala VIP para degustação

A experiência começou com um Cuvée Especial Blanc de Blancs, seguido por um Emma Zuccardi (bonarda), um Concreto (malbec), um Tito Zuccardi e alguns outros, em meio às explicações de por que eles escolheram os tonéis de concreto para os vinhos criados ali.

Sala da nossa degustação

A uns 35-40 minutos da Piedra Infinita, na direção de retorno ao nosso hotel, fica a Gimenez Riili, onde almoçamos às 14:30 uma gostosa parrilla argentina, regada a outros bons vinhos da bodega – torrontés, bonarda valiente, petit verdot – antes de experimentarmos um pouco mais dos vinhos direto dos barris de carvalho no galpão local.

Gimenez Riili

Retornamos depois ao hotel para passear um pouco pelas redondezas e descansar.

Dia 5 – Valle do Uco (La Vigilia, Piedra Negra)

Quinto dia, com tempo para curtir o hotel. Se estivesse calor, a piscina seria o espaço ideal para passar a manhã. Mas deu pra tirar mais umas fotos interessantes.

Piscina do La Morada Lodge

Lago artificial em frente à casa principal

Às 11:00 vieram nos buscar para o almoço no restaurante Rope, da Bodega La Vigilia. Desta vez, nada de tour guiado, apenas um calmo almoço com vinhos locais, num lugar excepcionalmente bonito e requintado. Para iniciar a refeição, que pecou apenas pela falta de sal, um La Vigilia Brut Nature, e para acompanhar o almoço um ótimo La Vigilia El Augurio Blend Reserva.

Vista da entrada do Rope

Jardim do Rope

Interior do Rope

Nossa segunda atividade do dia foi na Bodega Piedra Negra, onde fizemos uma degustação diferente: criamos nós mesmos nossos próprios blends. Depois de uma breve explicação sobre as características de cada vinho/uva, tivemos um tempo para misturar os vinhos e anotar as proporções que mais nos agradavam, entre as tintas malbec Alta Coleccion e Reserve, e a cabernet-sauvignon Gran Lurton. Cada um de nós saiu com uma garrafa com sua própria receita, recomendada para ser consumida em 6 meses.

Bodega Piedra Negra

Sala de repouso dos barris de carvalho

Prateleira da sala de experimentação

Como o almoço havia sido mais cedo, saindo da bodega passamos em um supermercado para comprar umas carnes – e mais alguns vinhos – para fazermos um “asado” argentino na churrasqueira do nosso próprio chalé do La Morada. Sorte a nossa de termos um companheiro de viagem de origem argentina que sabia o que fazer! 😉

No caminho, ESTE pôr do sol

E essa vista das parreiras avermelhadas da época

O asado argentino, diferente do brasileiro, é cozido em brasas, que se espalham debaixo das grelhas. Essas, por sua vez, são mais altas do que nas nossas churrasqueiras tradicionais. Deste modo, o cozimento é mais suave e não ataca diretamente a carne, dando tempo para que a gordura nutra a carne, tornando-a tenra e suculenta sem a secar.

Nosso “asado”

Dia 6 – Valle do Uco (La Celia, Alfa Crux)

Por conta da atividade culinária noturna do dia anterior, resolvemos cancelar nossa visita à Bodega La Celia, que originalmente estava prevista para às 11:00. Aproveitamos para descansar e comemorar o aniversário de um dos membros do nosso grupo de 7. Por ser uma ocasião especial, já havíamos reservado um almoço às 14:00 na Alfa Crux, o ponto alto da nossa viagem, a uma hora e meia do hotel.

Bodega Alfa Crux

A esplêndida refeição foi regada a Crux Xtra (tempranillo), Crux Xtra (pedro gimenez), Crux Extra Brut, Alfa Crux (malbec), Alfa Crux (corte), um RoXé e um Crux Cocina (late harvest). Os pratos desfilavam pela mesa, de tão bem preparados. A bodega é mesmo um “must” em qualquer visita ao Valle do Uco, e até para quem vai apenas a Mendoza, Maipú ou Lujan de Cuyo.

Sala dos tonéis de carvalho

Uma das salas de degustação

O fim do dia na varanda do restaurante

Dia 7 – Valle do Uco > Mendoza > São Paulo

Último dia, hora de retornar às 10:30 para Mendoza, para o vôo às 15:30. No caminho, passamos pelo parque General San Martín em Mendoza, e paramos em umas lojas de vinho e alfajores, para completar as “lembrancinhas” da viagem.

Fonte do parque General San Martín

Entre todos os alfajores que já provamos, ali encontramos um dos melhores, o Entre Dos. O almoço foi no próprio aeroporto e, como não poderia deixar de ser, regado a um bom vinho, um El Enemigo (malbec).

Da Argentina, em geral, as companhias aéreas permitem que se leve uma caixa fechada de 6 garrafas de vinho na mão, que devem ser colocadas debaixo do assento à frente do passageiro. A mala de mão ou mochila, neste caso, vai no compartimento superior. E ainda pode-se despachar uma mala com mais algumas garrafas, bem embaladas, é lógico (eu não confio na delicadeza com o trânsito de bagagem despachada).

Conclusão

A região de Mendoza é riquíssima em vinícolas e bodegas, e suas paisagens de plantações de parreiras mudam de cor a cada época do ano. Quando estivemos lá, a neve nas montanhas e o azul profundo do céu sem nuvens contrastava com o vermelho forte das folhas do outono, criando cenários de cair o queixo. Não importa se o seu programa for em Luján de Cuyo (a 20Km de Mendoza), Maipú (a 47Km da cidade) ou Valle do Uco, é certo que haverá muitas opções de visitas e degustações, sempre com gostinho de quero mais, para retornar novamente!

Crédito das fotos: Fabio Tagnin

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