A região das províncias de Salta e Jujuy na Argentina é naturalmente fascinante. Além de formações rochosas coloridíssimas, salinas com fundo infinito e cactos de todos os tipos e tamanhos, a região tem muita história e altitudes que favorecem a vinificação, principamente das uvas torrontés. Algumas paisagens lembram um pouco o Atacama, no Chile, tanto pela proximidade geográfica quanto pelo clima seco e árido.
Visitamos o Atacama em julho de 2015 e agora fizemos essa viagem a Salta no mês de maio de 2024. Apesar das previsões de amplitude térmica médias entre 10 e 25 graus Celsius, chegamos e pegar 35 graus em alguns dias. E o frio das manhãs em 10 graus nem pareceu tão ruim assim.
Nosso plano foi fazer um circuito de Salta a Cachi, Cafayate, San Salvador de Jujuy, Tilcara/Humahuaca e retornar a Salta. Há gente que faz o oposto, de Salta a San Salvador de Jujuy e Tilcara/Humahuaca, depois Cafayate, Cachi e retorno a Salta. Tudo depende da sua disposição na direção, se resolver ir de carro, seu preparo para a altimetria, ou dos planos do guia, se contratar uma agência. Nós preferimos fazer sem agência para aproveitar mais os lugares e otimizar os trechos de estrada.
Este mês de maio de 2024 parece ter sido um pouco atípico, com as mudanças climáticas. Mas dá para levar uma mala tipo carry-on com roupas leves, uma malha e um casaco corta-vento. Algo para proteger o pescoço do frio e a cabeça do sol também ajudam. Ah, e tênis ou botas de trilha, claro.
Altimetria
A cidade de Salta fica a 1.187 metros acima do nível do mar. Cafayate a 1.683 metros. Nessa altitude, muita gente nem sente a diferença. Cachi, porém, está a 2.280 metros acima do nível do mar e Tilcara a 2.465 metros. Para chegar às Salinas Grandes, a 3.450 metros de altitude, sobem-se as montanhas da Costa do Lipán até 4.170 metros, para depois descer. E na visita ao Mirante de Hornocal chega-se a 4.260 metros.
Para a maioria das pessoas que vive abaixo dos 1.000 metros, é preciso um certo preparo para acostumar-se com a altitude. Algumas sentem cansaço excessivo, outras fortes dores de cabeça. A recomendação para a maioria é andar sempre devagar, respirando e beber sempre bastante água. Nos lugares mais altos, um chá de coca ajuda muito. Quando tínhamos passeios para altitudes maiores que 3.000m tomamos sempre uma xícara pela manhã e enchíamos uma garrafinha de 500ml com chá para beber durante o dia. Isso ajudou muito.
E uma das razões de termos escolhido a ordem no roteiro foi justamente sair de altitudes de ~1.200m primeiro até ~2.200m e retornar a ~1.600 para então subir novamente a ~2.400 e enfrentar as subidas mais agressivas. Isso faz com que o corpo vá se acostumando devagar às altas altitudes e melhora consideravelmente o preparo físico.
Uma outra recomendação médica é não ingerir álcool nos primeiros dias em altitude muito maior que a habitual. Mas essa aí a gente não seguiu…
Dia 1 – chegada em Salta
Localizada a 1.200m de altitude, perto da Cordilheira dos Andes, no Vale de Lerma, a cidade de Salta tem 600 mil habitantes. Havia vôo direto de São Paulo a Salta, mas pouco antes da nossa viagem a Aerolineas Argentinas cancelou a linha e passou a fazer o trecho com escala em Buenos Aires. Assim, a nossa chegada na cidade aconteceu bem tarde. Apesar disso, na semana em que retornamos, a companhia enviou e-mail propagandeando novamente os vôos diretos. 🙁
Para fazer todo o trecho sugerido neste roteiro, alugamos um carro robusto – uma SUV ou picape 4×4 dão conta do recado, mas muita gente percorre os caminhos com um sedan pequeno, desde que não seja muito baixo, senão vão sofrer com os solavancos e tremedeiras dos longos trechos de estradas de terra e pedrinhas. Chegando na cidade, fomos direto ao hotel e ali mesmo jantamos e nos recolhemos.
Hospedamo-nos no Hotel Almería, muito simpático e aconchegante, perto do teleférico do Cerro San Bernardo (300m) e do centro histórico da cidade (800m), assim pudemos andar bastante a pé.
Dia 2 – Salta
Após um rico café da manhã, subimos o Cerro San Bernardo de teleférico (USD 10 por pessoa), para ter uma vista da cidade. Ali em cima está o Convento São Bernardo, que pode ser visitado, e o restaurante El Baqueano, que nos foi bastante recomendado para o almoço. Mas ainda era cedo pra isso. Lá em cima pode-se ver a cidade toda e é divertido tentar encontrar os pontos turísticos no meio das casinhas lá embaixo. Ah, e tem umas lojinhas de artesanato também.

Vista do topo do Cerro San Bernardo, em Salta
Na descida do teleférico, demos uma voltinha em um outro mercadinho de artesanato, andamos pelo parque San Martín e fomos visitar o centro histórico da cidade. Na praça 9 de julho estão a Catedral, construída no século XIX, e o Cabildo de Salta, um edifício colonial do século XVII.
Salta foi parte do Império Inca e na região ainda há muita gente que fala a língua quechua. Há até escolas de quechua para os mais jovens aprenderem e se relacionarem com a cultura milenar, hoje mais adaptada ao mundo moderno. Os sacrifícios humanos e de animais de outrora, portanto, ficaram na memória. Mas quem visitar o incrível Museu de Arqueologia de Alta Montanha (entrada a USD 8 por pessoa), vai ter uma visão mais realista. Ali estão expostas as múmias “Niños de Llullaillaco”, a Donzela, o Menino e a Menina do Relâmpago, três jovens encontradas em 1999 no alto de um vulcão de 7 mil metros de altitude, o Monte Llullaillaco. Congeladas enquanto dormiam, elas estão entre as múmias mais bem preservadas já encontradas – seus órgãos internos estava intactos, ainda com sangue, e suas peles e características faciais praticamente iguais à época de suas mortes. Mesmo para quem tem o coração fraco, vale entrar no museu e conhecer sua história.

A Donzela e o Menino, no vucão Lullaillaco (crédito do museu)
Ali perto da praça principal, fica a Basílica e Convento de São Francisco, uma construção ao estilo italiano do século XVIII muito bonita. Seu campanário é um dos mais altos da América do Sul. Aproveitamos para almoçar ali mesmo em seu restaurante, Páteo San Francisco, um lugar aberto e muito agradável.

Basílica e Convento de São Francisco, em Salta
Em seguida, retornamos ao hotel, pegamos o carro e fomos conhecer mais da cidade: no Mercado Artesanal de Salta testemunhamos um ensaio de dança coletiva típica. Passamos depois num supermercado para comprar água e uns vinhos locais. Quem tiver tempo e vontade pode também visitar o Museu Histórico do Norte, no edifício do Cabildo, o Museu de Arte Contemporânea, ou o Museu de Belas Artes. Nós caímos no conto do vigário e fomos até a Quebrada de San Lorenzo. Evite. Pelo menos nesta época do ano foi difícil estacionar, e a trilha pelo riacho entre pedras é pequena. Porém ali tem alguns restaurantes, que podem ser uma alternativa para quem não quiser comer na cidade.
Na hora do jantar, saímos a pé do nosso hotel em direção à rua Balcarce. Porém, já cansados do dia intenso, acabamos jantando no restaurante El Mesón, dentro do hotel Alejandro I – comida boa em um ambiente calmo.
Dia 3 – Salta > Parque Nacional Los Cardones > Cachi
Como sabíamos que a estrada do dia era longa, no café da manhã preparamos uns sanduíches para levar e comer na hora do almoço. Após o check out, pegamos a Rota Nacional 33 em direção a Cachi, passando pelo Parque Nacional Los Cardones. São 163Km no total, dos quais os últimos 114Km em terra batida. No caminho, paramos sempre que podíamos para apreciar a vista e tirar fotos das montanhas, cactos (Carthamus lanatus) e alguns grupos selvagens de Guanacos.

Guanacos no meio da estrada
As curvas da Cuesta del Obispo levam à Piedra de Molino, a 3.348 metros de altitude, parada obrigatória para uma foto deslumbrante.

Vista da Cuesta del Obispo desde a Piedra de Molino
O Parque Nacional Los Cardones tem 65 mil hectares. Da estrada saem trilhas que podem ser percorridas para chegar mais perto dos milhares de cactos que crescem na região, alguns com mais de 400 anos de idade.

Cardones, muchos cardones
Chegando em Cachi, deixamos as malas no elegante hotel boutique El Cortijo e fomos andar um pouco pela cidade. Ali, além das lojinhas de artesanato, tem o Museu Arqueológico Pío Pablo Piaz e a Igreja de São José. De curiosos, entramos em uma loja com a estátua de um extraterrestre na porta, e descobrimos que nos arredores há um Ovnipuerto. Construído pelo suíço Werner Jaisli em 2008, é composto por doze estrelas desenhadas no chão com pedras e cal, sem um desenho prévio. Teoricamente, serviria de guia para o pouso de naves extraterrestres. Vale a visita e conhecer a história do homem e do feito.

Ovnipuerto, em Cachi
Na volta ao hotel, aproveitamos para tomar um drink na beira da piscina e relaxar antes do banho. Jantamos no restaurante do próprio hotel, chamado Catalino, e ficamos espertos à noite para ver se ouvíamos algum OVNI aterrissar. 😉
Dia 4 – Cachi > Quebrada de las Flechas > Cafayate
Depois de um café da manhã reforçado, feito o check out, saímos em direção a Cafayate. São 160Km de terra batida pela RN40, que se percorre devagar durante umas 4 horas. No caminho, várias paradas fotográficas na Quebrada de las Flechas, com suas formações naturais de montanhas pontiagudas, esculpidas pelo vento e água ao longo do tempo.

Quebrada de las Flechas
Chegamos na zona vitivinícola de Cafayate para a hora do almoço e fomos direto ao restaurante da vinícola Piatelli, um lugar muito charmoso, com comida e vinhos excelentes. Mas não escapamos de um pneu furado. Nos 160Km de estrada de terra e pedras nada aconteceu, mas no caminho final para a vinícola um dos pneus sofreu uma avaria e estava todo murcho quando saímos do almoço. Trocamos e fomos direto a uma “gomeria” para arrumar o rasgo. No fim, nem precisou de um pneu novo.

Vinícola Piatelli
De lá, deixamos as malas no hotel boutique Villa Vicuña e fomos à Bodega El Esteco para fazer uma degustação de seus vinhos de altitude.

Vinícola El Esteco
A cidade de Cafayate é bem pequena, então deu também tempo para darmos uma voltinha e passar numas lojinhas. Notamos que havia alguns mosquitos no quarto e aproveitamos para comprar repelente de tomada, e tomar um café antes de irmos descansar da longa viagem no hotel.
Dia 5 – Cafayate > Alemania > San Salvador de Jujuy
O trecho da Rota Nacional 68 deste dia era para levar 5 horas, mas levamos quase o dobro. Depois do café da manhã, saímos em direção a San Salvador de Jujuy. A estrada é praticamente toda asfaltada nesse trecho, que passa pela cidade de Salta. A escolha de ficar em San Salvador de Jujuy foi justamente para conhecer a cidade, ponto de parada de muita gente que visita a região e faz os passeios diários.
Logo no início da estrada saindo de Cafayate está a Quebrada de las Conchas. Não conseguimos andar 500 metros sem dar uma paradinha, descer do carro, caminhar um pouco e fotografar. As esculturas naturais e formações rochosas são esplêndidas – Tres Cruces, El Anfiteatro, Las Ventanas e Garganta del Diablo são apenas alguns exemplos.

El Anfiteatro, na Quebrada de Las Conchas
Paramos em seguida no povoado de Alemania para almoçar na velha estação ferroviária. Até ali foram apenas 84Km.

Estación Alemania
Depois do almoço, seguimos a estrada por mais 226Km, passando por Salta até chegarmos a San Salvador de Jujuy. Deixamos as malas no hotel El Arribo e saímos a pé para jantar. Infelizmente caía um chuvisco fino, então escolhemos um restaurante mais perto, com comida local, o Viracocha – comida bem servida e saborosa.
Dia 6 – San Salvador de Jujuy > Purmamarca > Tilcara
San Salvador de Jujuy é uma cidade de 250 mil habitantes, menor que Salta, mas tem mais cara de cidade grande, com mais prédios. ou pelo menos foi assim que nos aparentou. Dizem que vale uma passada rápida no centro histórico, mas como o tempo estava ainda ruim e chuvoso, resolvemos seguir viagem em direção ao norte.
São apenas 66Km até Purmamarca, passando por Yala, Volcán e Tumbaya. E o tempo foi abrindo completamente. Porém, os vários postos de fiscalização policial acabam por retardar um pouco o trânsito. O país está com uma campanha contra a direção embriagada, e os policiais param os carros no meio da estrada, fazendo com que se criem filas atrás deles.
Chegando em Purmamarca, estacionamos e fomos direto ao mirante do Cerro de los Siete Colores para apreciar os contrastes minerais do local.

Cerro de las Siete Colores, em Purmamarca
Descendo as escadas, seguimos por uma ruazinha e percorremos a trilha do Paseo Los Colorados. São apenas 40 minutos a pé ao redor das montanhas coloridas, uma boa desculpa para abrir o apetite.

Paseo Los Colorados
Retornando à praça principal, almoçamos no restaurante Bien Me Sabe, muito charmoso e com pratos bem servidos e saborosos. Purmamarca tem também as melhores e mais variadas barraquinhas de artesanato da região, então aproveitamos para fazer também umas comprinhas.

Loja de artesanato, em Purmamarca
Algumas pessoas hospedam-se ali mesmo, mas resolvemos ficar em Tilcara, a 26Km dali, no hotel Villa del Cielo. Fomos muito bem recepcionados pela Luz, que na conversa já deu dicas importantes para os nossos p´róximos passeios. E ainda nos convenceu a ir ao delicioso SPA do lugar. Curtimos um pouco a piscina quente coberta e a sauna, antes de irmos jantar no restaurante do próprio hotel.
Dia 7 – Tilcara > Salinas Grandes > Tilcara
Logo de manhã, fomos direto à entrada da cidade e enchemos o tanque do carro. Retornamos e visitamos o Pukara de Tilcara e o seu Jardim Botânico de Altura. O Pukara é uma fortaleza construída antes dos Incas e o que se vê hoje foi em boa parte reconstruído. Da estrada lá embaixo se enxerga uma pirâmide, mas ela não fazia parte do conjunto original. Foi erguida em homenagem aos arqueólogos que encontraram e escavaram o lugar. No Jardim Botânico, não muito grande, há várias espécies de cactos e outras plantas interessantes da região.

Pukara de Tilcara
Saindo de lá passamos em um mercado e compramos pão e queijo prato fatiado, para almoçarmos mais tarde. Seguimos em direção às Salinas Grandes pela rota que se inicia em Purmamarca. Muita gente indica visitar as Salinas pela manhã, mas nós preferimos chegar lá no início da tarde, comer um sanduiche por lá mesmo e ficarmos até o sol se pôr. Uma decisão pra lá de acertada. O caminho de 90Km é asfaltado e tem muitas curvas, mas é extremamente pitoresco. As sinuosas curvas da Cuesta del Lipán formam um desenho que assusta.

Curvas da Cuesta del Lipán
Passando as piores curvas, chegamos no ponto mais alto da estrada, a 4.170 metros de altitude. Parada obrigatória para uma foto no obelisco que indica a altitude.

Marco da maior altitude da estrada
Depois continuamos descendo um pouco, até chegar nas Salinas Grandes, o deserto de sal de Jujuy, a 3.450m de altitude. Pouco antes das Salinas, em Saladillo, porém, tivemos a agradável surpresa de encontrar um grupo de Vicunhas selvagens, com graciosos filhotes pequenos. Uma diferença fácil de notar entre elas e os Guanacos é que as Vicunhas têm face da cor dos pêlos e os Guanacos têm face acinzentada.

Grupo de Vicunhas em Saladillos
Nas Salinas Grandes há duas paradas. Na primeira há barraquinhas com comida, mesinhas construídas com blocos de sal para piquenique, e banheiros químicos. Foi lá que paramos primeiro, para montar e devorar nossos sanduíches. Naquele ponto, pode-se rodar pelas Salinas de carro, mas apenas com guia, pelas regras locais. O preço é de USD 8 por automóvel. A guia te acompanha até as piscinas e tira as fotos que você quiser, mas tem tempo cronometrado. Em meia hora tem que retornar.

O infinito branco das Salinas Grandes

Trator trabalhando na extração de sal
Já na segunda parada, um pouco mais à frente pela estrada, pode-se estacionar e entrar nas Salinas a pé. A entrada também só é permitida acompanhada de uma guia local, mas tivemos a sorte de pegar uma moça muito bem-humorada, que sacou da mochila vários objetos para compor fotos fascinantes com o infinito da branquitude do sal.

Este objeto tem 25cm de largura apenas
Depois, ela retornou à sua base, e ficamos ali sozinhos andando e fotografando sem controle de tempo. Ficamos até o pôr do sol. Minutos antes, a luz amarela realçava as formas hexagonais do mosaico de sal no chão criando relevos fantásticos!

O sol refletido nas piscinas da Salina
Tem gente que fica até o céu escurecer por completo, para apreciar os bilhões de estrelas, sem nenhuma luz por perto. Ou hospeda-se no Pristine Camps (e paga salgados USD 640/noite). Mas lembre-se que a volta são 2 horas de estrada, que precisa ser percorrida com cuidado.

Pequena amostra do céu noturno
No retorno, jantamos em Tilcara, no restaurante Senador.
Dia 8 – Tilcara > Uquía, Humahuaca > Hornocal > Tilcara
Saímos após o café da manhã para visitar o pequeno povoado de Uquía, onde passa a linha que demarca o Trópico de Capricórnio. Em frente à praça central fica a Igreja de São Francisco de Paula, declarada Monumento Histórico Nacional em 1941 e famosa por seu altar de madeira dourada e quadros de pinturas dos anjos arcabuzeiros nas paredes. A construção original é de 1691 e as pinturas internas foram trazidas de Cusco, no Peru, na época colonial. Suas paredes de adobe têm 1m de espessura.

Interior da Igreja de São Francisco de Paula
Ali da cidade sai a trilha da Quebrada Las Señoritas. Há opções de 1 hora e meia e de 4 horas, para quem quiser explorar caminhos diferentes. Os guias levam grupos de 8 pessoas, e quem não quiser esperar chegar mais gente tem que pagar pelos 8. Fizemos a trilha mais curta, que leva a um desfiladeiro vermelho esculpido nas rochas, com o guia Nahuel que, no caminho entre as enormes paredes, sacou sua flauta pan e assoprou um El Condor Pasa para nos entreter.

Trilha da Quebrada Las Señoritas
Seguimos depois a Humahuaca, onde almoçamos no recomendado restaurante Pacha Manka. Para digerir, andamos pela cidade, passando pela praça central e suas barraquinhas de artesanato, terminando no Monumento aos Herois da Independência sobre as escadas no centro histórico. Inaugurado em 1950 nos anos de Juan Domingo Perón, dá destaque a um indígena de 9 metros de altura, que representa o povo argentino.

Monumento aos Herois da Independência, em Humahuaca
Dali, pegamos uma estrada de terra e pedrinhas bem difícil, de 25Km, pela Quebrada de Humahuaca até o Mirador de Hornocal (a 4.350m de altitude). Do mirante tem-se uma vista maravilhosa do Cerro de las 14 Colores, uma formação rochosa que expõe milhares de anos de diferentes minerais sedimentados com suas cores características.

O mirante
A cor branca vem do calcário e argila, amarelo do enxofre, turquesa do cobre, laranja do óxido de chumbo, tons verdes do cloreto férrico e do óxido de cobre, vermelho do ferro oxidado, roxo da malaquita, etc. Eu contei muito mais que catorze cores; é fantástico!

Cerro de las 14 Colores
Do mirante pode-se descer uns 200 metros para chegar um pouco mais perto e tirar fotos melhores. Sempre lembrando que a altitude tem um efeito muito forte no fôlego para a subida da volta. Quem tiver pique (e mais fôlego, ou tiver tomado mais chá de coca) pode ir mais 100 metros além e chegar no ponto mais calmo e silencioso, sentar e apreciar melhor aquele momento incrível, antes de enfrentar a subida do retorno ao estacionamento.

A subidinha da volta
Na volta à civilização, se der tempo, a 15Km de Humahuaca há cactos gigantes em Hornaditas. Não achamos razão para ver mais cactos, então retornamos a Tilcara para jantar no restaurante Los Olivos.
Dia 9 – Tilcara > Salta > São Paulo
Depois do café da manhã e check outo, saímos em direção ao aeroporto de Salta para retorno a São Paulo. São 190Km de estrada que podem ser facilmente percorridos em 3 horas. Há quem pegue o vôo de volta no aeroporto de Jujuy, um pouco mais perto. No aeroporto de Salta, devolvemos o carro e ainda tivemos tempo de almoçar antes de pegar o vôo.
Conclusão
A nossa América do Sul tem tantos atrativos que é difícil contar. E a Argentina é um país extremamente diverso, com contrastes fascinantes entre as geleiras da Patagônia (essa é outra viagem magnífica) e os desertos de Jujuy. Saímos desta semana esticada com as vias respiratórias um pouco ressecadas (fato), mas com a alma renovada, os olhos cheios de cores e o peito cheio de amores pelo povo e sua cultura.
Crédito das fotos: Fabio Tagnin