A genealogia da viagem
Por anos hesitei muito em visitar a Alemanha. Na família sempre havia uma nuvem escura, uma neblina quando atravessávamos o assunto e falávamos de ancestralidade, de história. Apesar de meus avós maternos terem nascido lá, e fugido pouco antes do início da Segunda Guerra, eles retornaram já adultos algumas vezes para visitar amigos e parentes. Assim, não sei bem se a neblina vinha deles ou de mim, que por muito tempo tive uma visão do país como perpetrador de uma das mais horríveis histórias de genocídio contra um povo, uma cultura, uma religião.
Durante os quatro anos de faculdade estudei a língua alemã, para depois não praticar e esquecer a maioria do vocabulário e suas regras gramaticais complexas. Mas quando surgiu a conversa de ir à Europa atrás das nossas raízes, eu já estava bem mais maduro, havia estudado minha ancestralidade, construído uma árvore genealógica com mais de 4 mil pessoas e desenhado ao longo de 15 anos alguns ramos com até 12 gerações passadas. Meu interesse pela história e paradeiro da família cresceu, infelizmente mais após a morte dos meus avós maternos, justo a fonte mais precisa que eu teria para conectar e esclarecer boa parte mais recente da nossa história.
Assim, quando tracei o roteiro na Alemanha, escolhi visitar a cidade onde nasceu meu avô, Nuremberg, e a cidade onde nasceu minha avó, Berlim. Ambos só se conheceram no Brasil, onde aportaram, com 8 meses de diferença. Seus pais, cientes dos perigos da política do partido nazista alemão, partiram em 1935 e 1936, respectivamente, em busca de uma vida mais tranquila, sem perseguições preconceituosas. O resto da família, porém, decidiu ficar, por razões que até hoje desconheço. E não sobrou praticamente ninguém pra contar essa história.
A pesquisa genealógica identificou também os locais de nascimento dos pais do meu avô – Bayreüth e Fürth – e pais da minha avó – Vienna e Leipzig. Só que os genitores do pai da minha avó, que nasceu em Vienna, vieram da Romênia. E os genitores da mãe da minha avó, que nasceu em Leipzig, vieram da Polônia. E aí o roteiro da viagem começou a ficar complicado. Deixei de lado Fürth e a Romênia, e posterguei a ida a Vienna. Na Polônia, não pude visitar as cidades de Brzeg e Bralin, que ficam perto da Breslávia, onde nasceram os avós da minha avó, e acabei incluindo apenas Varsóvia e Cracóvia, por sua importância histórica.
Regensburg
No caminho de Praga a Munique, além da multa pela entrada errada no Castelo de Karlštejn, paramos um pouco em Regensburg para esticar as pernas. Foi nossa primeira parada na Alemanha, para ‘sentir o clima’ e lembrar de algumas fotos que havia visto da minha avó na cidade.

Regensburg
Munique
Chegando na cidade, deixamos as malas no hotel e saímos a pé para buscar um restaurante para jantar. Cansados da viagem de carro, comemos perto do hotel e fomos descansar. Teríamos ainda 2 dias inteiros na cidade para explorar.
Nosso hotel ficava a poucos quarteirões de Marienplatz, a praça onde fica a Prefeitura (Neues Rathaus) da cidade. Fundada em 1158, a construção gótica é extremamente detalhada e possui uma torre com um relógio que conta com bonecos móveis e são a atração ‘da hora’ para os milhares de turistas. No centro da praça foi erguida em 1683 a Coluna de Maria, que deu o nome moderno à praça.

Vista da Marienplatz a partir da torre da Peterskirche
Ali em volta há diversos pontos interessantes para serem visitados. Dá para passar o dia. Há o Residenz Museum na Praça Max-Joseph, com seu elegante jardim Hofgarten atrás; o teatral Feldherrnhalle na Odeonsplatz, ao lado da elegante (igreja) Theatinekirche; e a gótica Frauenkirche (Catedral de Nossa Senhora, construída em 1468 e totalmente reconstruída depois da Segunda Guerra).

Hofgarten

Feldhernhalle & Theatinerkirche

Frauenkirche
Vale subir na torre da Peterskirche, cuja vista depois dos 300 degraus é espetacular, em particular da própria Marienplatz; da Frauenkirche; da Prefeitura Antiga (Altes Rathaus) e sua torre do relógio; e da igreja Heilig Geist.

Altes Rathaus & Heiliggeistkirche

Heiliggeistkirche
Atrás da Alte Rathaus está a estátua da Julieta Capuleto (em que todo o mundo mete a mão). Dizem que dá sorte no amor…

Estátua de Julieta Capuleto, do romance de Shakespeare
Na área também está o mercado agrícola com comidinhas de rua Viktualienmarkt; os portões de Isar e de Karl; e do outro lado a famosa cervejaria Hofbräuhaus München – um enorme restaurante com mesas compartilhadas, música ao vivo e garçons vestidos a caráter. Tudo isso se faz a pé e o roteiro depende da hora do dia e da fome. Ao longo do caminho há diversos restaurantes também.

Viktualienmarkt

Isartor

Karlstor

Hofbräuhaus München
A sudoeste dessa grande área fica a (igreja) Asamkirche, perto do portão Sendlinger Tor; e mais a leste o moderno Museu Judaico de Munique, e sua sinagoga no meio da praça St-Jakobs.

Museu Judaico

Sinagoga
Mais ao norte fica o Englischer Garten, um parque verde maior que o Central Park e que o Hyde Park, que vale uma visita. Ali encontram-se alguns monumentos, como a Torre Chinesa (Chinesischer Turm) e o Monopteros (Templo Grego). Inclusive, para quem gosta de surfe, o esporte é praticado ali no Eisbachwelle, numa espécie de ‘pororoca’ do rio Eisbach.

Torre Chinesa no Englischer Garten

Templo Grego no Englischer Garten
Para quem curte museus, a cidade está repleta deles. Ao sul do parque fica o museu de arte Haus der Kunst; e ali perto o Bayerisches Nationalmuseum, museu de arte da Baviera, cobrindo a história cultural da região. A oeste dali, ao redor da Konigsplatz e do portão e marco histórico pela liberdade Propylaea, estão reunidos mais alguns importantes centros de arte e cultura da cidade, como o Staatliche Antikensammlung (reunindo coleções de antiguidades); a Glyptothek (arte e esculturas); a escola de música Hochschule für Musik und Theater München; o Staatliche Sammlung für Ägyptische Kunst (objetos de arte egípcia); a Antiga Pinacoteca e a Nova Pinacoteca; a Pinakothek der Moderne; e Die Neue Sammlung (arte moderna). Tem também o Museu da BMW, para quem quer gosta dessa arte.

Propylaea

Staatliche Antikensammlung

Alte Pinakothek
Nosso primeiro dia passamos ao redor da Marienplatz. E no dia seguinte visitamos o Museu Judaico, o parque e alguns dos museus ao redor da Konigsplatz.
Esticada até Innsbruck, na Áustria
A ideia original deste dia era visitar, de carro, o Castelo de Neuschwanstein, em Füssen, a 120Km de Munique, depois seguir para Nuremberg. Mas por uma razão do destino decidimos dar uma esticada até Innsbruck para visitar um amigo. Passamos lá umas horas chuvosas (infelizmente) e pegamos estrada para voltar à Alemanha e chegar em Nuremberg.

Uma das principais ruas comerciais de Innsbrück
Conclusão
Munique é uma cidade com muita história, grandes parques e jardins verdes, palácios, inúmeras igrejas e muita gastronomia. Come-se bem e bebe-se melhor ainda. Além de andar pela cidade durante o dia, é preciso apreciar o espetáculo de iluminação à noite também. E se considerarmos a variedade de museus e os passeios a fazer fora da cidade, daria para passar lá uma semana tranquilamente.
Porém, no terceiro dia já partimos de Munique para Innsbrück e depois para Nuremberg. Segue a viagem…
Crédito das fotos: Fabio Tagnin