Hvar – Croácia

A ilha de Hvar e suas ilhas periféricas estão muito perto de Split e oferecem cenários incríveis para passeios de barco e mergulhos. Não à toa é destino cativo de milionários do mundo todo, que chegam ostentando seus iates, mas também de turistas individuais, casais e em família, que enriquecem a vida na cidade e multiplicam sua população na alta estação.

História

Hvar teve em sua longa história uma lista grande de influências, desde os fundadores gregos no século IV a.C., passando pelas mãos da República de Veneza, cobiçada pelo Império Otomano, dominada por Napoleão, até cair no colo do Império Austro-Húngaro. É um lugar de águas cristalinas e campos de lavanda, onde nasceu e cresceu o antropólogo e policial, inventor da identificação de pessoas por suas impressões digitais, Ivan Vučetić (1858-1925).

Nesta ilha de 68 Km de extensão moram pouco mais de 11 mil habitantes, vivendo não apenas do turismo e da pesca, mas de suas costas férteis, fontes de água doce, florestas de pinheiros, parreiras e oliveiras, campos de lavanda e árvores frutíferas. Sua primeira cidade, hoje Stari Grad, foi fundada pelos gregos em 384 a.C. sob o nome de Pharos.

Em nosso roteiro, reservamos 2 dias para curtir a cidade e arredores. Hvar, que se note, não é barata. Algo que notamos em nosso trajeto de Zagreb até aqui foi que os preços básicos – de hospedagem, comida e até souvenirs – foram aumentando. E seguiriam subindo à medida que nos aproximamos da última cidade que visitamos, Dubrovnik.

Roteiro

Numa manhã ensolarada, depois de conhecer Split, saímos de carro cedo e, no porto de Split, subimos num Ferry boat da Jadrolinija em direção a Stari Grad, um dos portos da ilha de Hvar. O trajeto dura 2 horas, mas pode ser feito também por Catamaran, para quem não vai de carro, levando apenas 50 minutos.

Porto de Stari Grad

Havíamos planejado passar o primeiro dia conhecendo antiga Stari Grad e a charmosa cidade de Hvar, passeando por seus pontos turísticos principais e aprendendo sobre a sua história, e no dia seguinte fazer um passeio de dia todo às Ilhas Pakleni (Paklinski). Mas a previsão do tempo dizia que choveria bem no dia do passeio às ilhas – algo raro de acontecer na ilha mais ensolarada da Croácia (ou do mundo, segundo alguns).

Então mudamos os planos e, ao aportarmos em Stari Grad, dirigimos por 20min direto ao apartamento que alugamos, bem perto da Praia Lučica e do Mosteiro Franciscano. Largamos tudo no apartamento e saímos a pé em busca de um dos pontos de aluguel de barco na Praia Lučica. Encontramos uma opção barata (EUR 100 pelo dia) para um um Pasara 6HP, um barquinho a motor para 4-6 pessoas, que nós mesmos iríamos pilotar, combustível incluso. O marinheiro nos deu uma rápida aula de como ligar e desligar o motor, ancorar e manobrar o barco. E lá fomos nós em direção às ilhas.

Praia Lučica e Mosteiro Franciscano

Há diversas ilhotas no arquipélago e, sem um marinheiro experiente para nos conduzir, a indicação era seguir um roteiro/caminho pré-determinado. Os tempos de parada em cada lugar ficaram por nossa conta, de acordo com nossa vontade. Assim, decidimos seguir direto para o ponto mais longínquo e depois vir retornando ao porto, parando onde achávamos adequado e interessante.

Mapa do arquipélago de Pakleni

A primeira parada foi na praia de Vlaka, onde ancoramos num pier e fizemos uma trilha para atravessar a ilha e parar numa prainha sossegada. É ali que fica o restaurante Fisherman, muito indicado por sua localização na mata e comida saborosa.

Praia de Vlaka

Meia hora de mergulho depois, subimos no barco e paramos na baía de Taršče para mais um mergulho naquelas águas azul-turquesa transparentes. Depois, mais uma parada na praia Store-Stone para relaxar em um canto mais calmo, sempre mergulhando de máscara e snorkel, equipamento que havíamos trazido de casa.

Água azul-turquesa do Adriático em uma das paradas

Continuando nosso trajeto, passamos na praia de Palmižana. É a praia mais famosa e agitada do conjunto. Barcos enormes, cheios de gente bebendo e dançando, com músicas agitadas no último volume nos fizeram querer sair dali o mais rapidamente possível.

O piloto sem licença

Seguimos, passando rapidinho pela praia Perna, uma faixa minúscula de areia num “V” de pedras, e ancoramos em Mlini, um outro lugar com bastante gente, mas silencioso. Deu pra nadar até a praia e ficar um pouco por lá.

Já satisfeitos, resolvemos retornar, passando rapidamente pela praia Carpe Diem, cujo bar famoso ainda estava movimentado de pessoas e barcos. E depois navegamos ao largo da praia de nudismo de Jerolim, onde já nem havia tantos banhistas, pois o sol já estava em fase de descida e as nuvens fechavam o céu.

Vista da cidade de Hvar e sua Fortaleza Espanhola sobre a colina

Aportamos no lugar de onde havíamos saído, na praia Lučica, deixamos o barco nas mãos do marinheiro, e voltamos ao apartamento para tomar uma ducha, antes de sairmos para conhecer o centro da cidade e jantar.

2o dia

No nosso segundo dia, tomamos um café da manhã no apartamento, e saímos de carro para conhecer a Fortaleza Espanhola (Fortica Spanjola), localizada no alto da colina que circunda a cidade de Hvar. Da cidade há escadas que chegam lá também, para quem estiver com o físico preparado. De carro, o trajeto é tranquilo e rápido, e o estacionamento gratuito.

Fortaleza Espanhola e sua muralha
Entrada da Fortaleza Espanhola

Construída no século XVI para proteger a cidade da expansão do Império Otomano, o nome da fortaleza deriva do envolvimento de engenheiros espanhóis no projeto e construção. Infelizmente, apesar de ter conseguido o feito de segurar os turcos, manter o controle da cidade e proteger sua população, a fortaleza foi alvo de sua própria natureza: cerca de oito anos após a tentativa de invasão, um raio atingiu seu armazém de pólvora, e a explosão destruiu boa parte de sua construção. A restauração só aconteceu no século XIX, sob domínio do Império Austro-Húngaro.

Paga-se o ingresso de entrada à fortaleza, que vale a pena pois a vista de lá é incrível: a pequena cidade lá embaixo, com seus portos e as ilhas que a rodeiam formam uma paisagem de tirar o fôlego, principalmente ao pôr do sol. Naquela manhã, porém, a chuva atrapalhou um pouco a vista, e tivemos que retornar na manhã seguinte, já na nossa saída de Hvar, para apreciá-la com a luz do sol.

Vista da Fortaleza Espanhola: a cidade de Hvar e as ilhas Pakleni

Findo o tour pela fortaleza, descemos à cidade e, entre uma pancada de chuva e outra, fomos conhecendo seus pormenores. O primeiro ponto de parada foi a Praça de Santo Estevão (Trg svetog Stjepana), uma das mais antigas da Dalmácia. O lugar é um aterro, construído onde ficava uma enseada dividindo as duas colinas que cercam Hvar.

Praça de Santo Estevão
Praça de Santo Estevão à noite

Bem no canto dessa praça, repleta de restaurantes, está a Catedral de Santo Estevão, construída entre os séculos XV e XVI sobre uma antiga igreja cristã do século VI. Sua torre e campanário foi erguida mais tarde, apenas no século XVII.

Catedral de Santo Estevão

Na outra ponta da praça está o antigo Arsenal, um estaleiro naval que foi convertido no primeiro teatro público da Europa, funcionando ainda desde século XVII.

Arsenal
Teatro do Arsenal

Em frente ao Arsenal fica o Loggia, palácio veneziano com um museu e Torre do Relógio, oferecendo uma bela vista da cidade. Subimos em sua torre somente no final do dia.

Loggia – Palácio Veneziano
Vista da cidade pela torre do relógio do Loggia – Palácio Veneziano
Vista da cidade pela torre do relógio do Loggia – Palácio Veneziano

Partindo dali, percorremos a Riva, a promenade de Hvar, olhando os restaurantes, bares e sorveterias, de frente aos iates ancorados na água azul do Adriático e sob a forte iluminação das muralhas da fortaleza lá no alto da colina.

Riva
Riva vista do outro lado
Viela que sai da Catedral, com restaurantes

A rua de trás da Riva tem diversos bares e restaurantes também, e fica bastante cheia no início da noite. Vale muito embrenhar-se pelo meio das vielas e apreciar o ar medieval, as plantas floridas embelezando as fachadas de pedra e mármore, e encontrar algumas pérolas da antiguidade pelo caminho.

Uma das vielas da cidade
Outra das vielas da cidade
Um poço do ano de 1475, com símbolo da República de Veneza

3o dia

A ilha de Hvar tem diversos atrativos e dois dias não são suficientes para percorrê-los todos. Nós tínhamos apenas 2 dias, que foram cheios de aventuras, mas tivemos que seguir viagem no terceiro dia. De carro, rodamos até o outro extremo da ilha, ao porto de Sućuraj. De lá tomamos um ferry boat para Drvenik, no continente, de onde seguimos para Dubrovnik.

Sućuraj
Farol de Sućuraj
Drvenik

No caminho, almoçamos em Neum, na Bósnia e Herzegovina. Há alguns anos já existe uma ponte, a Pelješac, entre Duboka e Brijesta, que mantém o viajante em território croata até chegar em Dubrovnik, mas resolvemos fazer esse pit-stop para conhecer um país novo, cuja única saída para o mar corta um rabicho da Croácia e a divide em dois territórios, separando fisicamente a região de Dubrovnik do resto do país.

Ponte Pelješac
A bifurcação para manter-se na Croácia ou passar pela Bósnia e Herzegovina

Assim, em Klek, ainda na Croácia, passamos por uma base de inspeção federal, mostramos passaportes, e entramos em território Bósnio.

Base de inspeção federal entre Croácia e Bósnia e Herzegovina

Almoçamos no Laguna, em Neum, um restaurante indicado por amigos, com comida muito boa. Ali, a moeda já não é mais o Euro, recém-adotado na Croácia, então o pagamento foi em cartão de crédito mesmo.

Praia de Neum

De Neum, retornamos à estrada e entramos novamente na Croácia. Como tínhamos tempo, passamos pelas criações de ostras de Mali Ston, a parte mais nova da cidade, de onde saíam os navios carregados do sal produzido ali, e depois demos uma rápida parada em Ston, para conhecer suas famosas muralhas.

Dominada pelos romanos e depois conquistada pelos croatas, a cidade original foi destruída por um terremoto em 1252. Depois de ser reconstruída e invadida pela República de Dubrovnik, ganhou seu contorno moderno a partir da primeira metade do século XIV. Ston também sofreu com bombardeios durante a 2a Guerra Mundial, que acabaram com várias de suas construções do período romano. Na guerra de separação, da Iugoslávia, entre 1991 e 1995, outras marcas foram inflingidas à cidade e, mais tarde, em 1996, um outro terremoto destruiu parte da muralha restante.

Ston é a cidade com a maior muralha da Europa, originalmente de 7 Km. Sua construção começou em 1333, com o objetivo de proteger as salinas da cidade, símbolo de sua riqueza e poder (o peso do sal valia na época o mesmo que o peso em ouro). Hoje, nos 5 Km restantes da muralha, ainda há 42 torres e 7 bastiões, muitos dos quais podem ser visitados por um passeio por cima dos muros.

Mali Stone e as boias da criação de ostras
Muralhas de Ston
Viela em Ston
Forte Kaštio em Ston

Conclusão

Quem tiver mais tempo na ilha de Hvar, pode curtir as praias de Pokonji, Milna ou Dubovica, que são as mais bonitas. Pode visitar os campos de lavanda próximos a Brusje, ou passar um tempo explorando as cidades de Stari Grad, Jelsa ou Vrboska. Isso sem falar em aproveitar as noites agitadas nos vários bares da cidade, ou até mesmo no Carpe Diem, na ilha de Stipanska, cujas festas que varam a noite são famosíssimas.

O caminho de Hvar até Dubrovnik é bastante pitoresco, por isso levamos o dia todo, entre atravessar a ilha, com paradas, esperar o ferry, atravessar o canal, parar para fotografar no meio da estrada (várias vezes), almoçar na Bósnia, visitar Ston e finalmente chegar no nosso destino final desta viagem incrível, com um pôr do sol de tirar o chapeu.

Seguimos aqui com um post só sobre Dubrovnik.

Crédito das fotos: Fabio Tagnin

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