Neste roteiro de 15 dias em julho de 2022 planejamos visitar as capitais de três países da Escandinávia: Noruega, Suécia e Dinamarca, mais uma extensão em Bergen e arredores, na Noruega. Começando o tour por Oslo, capital da Noruega, seguimos de trem a Estocolmo, na Suécia, depois também de trem a Copenhagen, na Dinamarca. De lá, voamos a Bergen, na Noruega, alugamos um carro, demos a volta pelas cidades ao redor da geleira do Parque Nacional de Jostedalsbreen, e seguimos ainda de carro de volta a Oslo, de onde voamos a São Paulo.
Separei a viagem em 4 partes:
- Oslo – Noruega
- Estocolmo – Suécia
- Copenhagen – Dinamarca
- Bergen – Noruega
Estocolmo
Planejamos passar 4 dias inteiros em Estocolmo, fora o dia da chegada e o de saída, mas poderíamos passar mais. A cidade não é tão grande, dá para cobrir quase tudo a pé, de patinete ou bicicleta, mas é espalhada por 19 ilhas e ilhotas na junção do Lago Mälaren com o Mar Báltico, conectadas por mais de 50 pontes. Tem menos de 1 milhão de habitantes em sua região central e tem sido o centro político-administrativo, cultural e financeiro da Suécia desde o século XIII. Só de museus são mais de uma centena, impossíveis de serem cobertos todos em apenas uma viagem.
A cidade é um encanto, exibindo um equilíbrio arquitetônico coeso em suas áreas mais antigas, oferecendo vistas deslumbrantes em seus inúmeros canais, calçadões, ruelas medievais e parques. Não tem como não se apaixonar pelo lugar, seu povo, cultura e não querer retornar.
Chegamos de trem, partindo da Estação Central de Oslo em Jernbanetorget, e chegando na Estação Central de Estocolmo, na Centralplan. Ali, pegamos o metrô até bem perto do nosso hotel, e caminhamos até o Hilton Stockholom Slussen, super bem localizado, a 10min de caminhada do famoso museu Fotografiska.

Fotografiska
Assim como na maioria das grandes cidades europeias, vale a pena marcar um Free Walking Tour pelo centro histórico. Fizemos o nosso logo no dia seguinte à chegada, com a Guru Walk, partindo da praça Gustav Adolf, em frente à Ópera Real Sueca (Kungliga Operan). A guia, uma estudante espanhola, com seu guarda-chuva de arco-íris, nos acompanhou até debaixo de uma chuvarada que nos pegou desprevenidos.

Ópera Real Sueca (Kungliga Operan)
Em uma das faces da praça, está também o Arvfurstens Palats, palácio de 1794 usado inicialmente como residência da Princesa Sophia Albertina e, desde 1906, ocupado pelo Ministério do Exterior.
Dali, atravessamos uma pequena ponte que dá numa ilhota onde fica o Parlamento da Suécia e de onde se avista o Palácio Real de Estocolmo, que já está em Gamla Stan. O palácio pode ser visitado – tem mais de 600 cômodos, distribuídos em 7 andares, nem todos abertos à visitação. É possível ver, por exemplo, os salões de Estado, com interiores esplêndidos dos séculos XVIII e XIX, em que são feitas recepções e são recebidos convidados ilustres; o Rikssalen com o trono de prata da rainha Kristina e Ordenssalarna (Salões da Ordem da Cavalaria); o Tesouro, onde ficam as joias da Coroa; o Museu Tre Kronor, que mostra o palácio no seu período medieval; a Capela Real; e o Museu de Antiguidades de Gustavo III. O Palácio ainda conta com uma área de Armaduras e Armas medievais, além de carruagens de coroação. Para quem gosta de cerimônias de troca de guarda, é possível assistir à troca de guarda real que dura cerca de 40 minutos.

Parlamento da Suécia

Interior da Capela Real do Palácio

Uma das galerias do Palácio Real
Gamla Stan
A pequena ilha abriga a antiga cidade medieval onde Estocolmo foi fundada, em 1252. Suas ruelas estreitas de pedra preservam o ar medieval e pintam um quadro pitoresco com seus edifícios antigos, lojas de souvenires, cafés e restaurantes.
Suas ruas estão cheias de histórias, marcos e curiosidades. É impossível dar dez passos sem encontrar algo que nos chame a atenção. Caminhando um pouco, chegamos logo na praça Stortorget, onde está o cartão postal da cidade, com as suas casinhas de tons amarelo, ocre e terra. A praça já foi palco de cenários sangrentos, mas hoje é um lugar de ar divertido e aconchegante.
No centro da praça, fica um poço de água, projetado por Erik Palmstedt e construído no século XVIII. O poço original secou em 1856 e foi transferido para Brunkerbergstorg, tendo sido devolvido ao seu local original na década de 1950, e conectado à rede de água da cidade.

Stortorget, com o poço à esquerda
Atrás do Palácio Real, fica a Catedral de São Nicolau (Storkykan), a igreja mais antiga de Estocolmo, construída entre 1279 e 1306. Na Idade Média ela foi dedicada a São Nicolau, mas depois da Reforma Protestante, em 1527, tornou-se uma igreja luterana. Hoje, com seu exterior barroco, vitrais e esculturas internas incríveis, é palco de diversos concertos e eventos, inclusive da coroação de novos monarcas suecos.
Mais atrás está a Praça pública de Branting (Brantingtorget), cujo edifício ovalóide (anexo da chancelaria) serve, segundo nossa guia, de moradia aos parlamentares que vêm de todos os lugares da Suécia para suas reuniões políticas na capital.

Brantingtorget
Nas costas da Catedral fica o Edifício da Bolsa de Valores de Estocolmo e o Museu do Prêmio Nobel, que conta a história de Alfred Nobel e de mais de 900 laureados, vencedores de um dos prêmios mais nobres e cobiçados do mundo nos últimos 100 anos.

Museu do Prêmio Nobel
Um quarteirão à frente, passamos pela Igreja Alemã de Estocolmo, dedicada a Santa Gertrudes, padroeira dos viajantes. Erguida no século XIV em estilo barroco e neo gótico, também tem vitrais magníficos e vale uma passadinha. Em contraste, ande mais um pouco para chegar na praça do Museu Judaico (Judiska Museet), que ilustra um pouco da vida da comunidade judaica da região.

Interior da Igreja Alemã de Estocolmo

Interior do Museu Judaico
Seguindo o fluxo turístico, avistamos a rua mais estreita de Estocolmo, com apenas 90cm de largura, a Mårten Trotzigs gränd, e depois na praça Järntorget está uma das esculturas do artista e compositor sueco Evert Taube (1890-1976) espalhadas pela cidade. Ambos são paradas obrigatórias para um oportunístico ensaio fotográfico.

Escultura de Evert Taube na Järntorget
Completando nossa volta por Gamla Stan, passamos pela estátua de bronze de São Jorge e o Dragão, instalada na Praça Kopmantorget em 1912, uma réplica da original de Bernt Notke Lubeck feita em 1489, cujo original se encontra na Catedral de Estocolmo.

São Jorge e o Dragão
E se nos esgueirarmos por mais umas ruazinhas, chegamos à Estátua do Menino Olhando a Lua (Järnpojken – Pojke som tittar på månen), a menor obra de arte da cidade, de apenas 15cm de altura, realizada pelo artista plástico Liss Eriksson. Em torno dela criou-se uma lenda que diz que quem acariciar sua cabeça ou lhe trouxer algum presente terá muita sorte. Decerto que a maioria dos turistas que por ali passam deixam sua moedinha, mesmo sob chuva intensa.

Estátua do Menino Olhando a Lua
Uma curiosidade que se observa em muitas das edificações da ilha são suas janelas falsas, pintadas na fachada de modo a completar o desenho simétrico das janelas de verdade. Alguns dizem que, quando foram construídos os prédios, o vidro ainda era muito caro, assim os arquitetos construíam alguns cômodos com janelas e pintavam o exterior como se houvesse mais janelas, para manter a simetria. Outra história, bem mais interessante (e que parece ser a mais verídica), conta que um monarca sueco emprestou a ideia antes implantada na Inglaterra, França e Irlanda, impondo que a coleta de impostos dos proprietários fosse proporcional ao número de janelas dos edifícios. Para economizar, então, muitos deles fecharam as janelas de vez, e pintaram seus contornos por fora.

Fachada com janelas falsas
Na Inglaterra, o Rei William III foi o primeiro que, em 1696, para cobrir a receita perdida com a emissão de novas moedas, decretou que fosse coletado imposto proporcional ao número de apartamentos, janelas e luzes. Com isso, as pessoas da região começaram a tapar as janelas com tijolos para economizar. Foi só em 1851, depois de muita pressão de médicos e outros nobres locais, arguindo que a falta de iluminação era danosa à saúde, que o ato dos impostos foi revogado.
Riddarholmen e Kungsholmen
Na ilha vizinha de Gamla Stan, RiddarHolmen, está a igreja Riddarholmskyrkan, construída no fim do século XIII e onde são sepultados os monarcas da Suécia, desde Magno I.

Riddarholmskyrkan
Ali também foi erguida uma das estruturas mais antigas da cidade, a Torre Birger Jarls, um observatório de defesa da época do Rei Gustav Vasa, século XVI, que reconquistou a cidade das mãos dos dinamarqueses. O nome da torre é uma homenagem ao líder da Segunda Cruzada Sueca, Birger Jarl, um dos homens mais poderosos de seu tempo e alegadamente responsável por encerrar a fase de hostilidades entre a Suécia e Noruega no século XIII.

Torre Birger Jarls
Da ilha se avista o Conselho Municipal de Estocolmo (Stockholms Stadshus), edifício erguido na ilha de Kungsholmen entre 1912 e 1920, com foco em iluminação natural, e que serve de palco para a entrega anual do Prêmio Nobel e jantar de comemoração. O lugar pode ser visitado comprando-se ingressos na hora, e pode-se subir na concorrida torre para se ter uma maravilhosa vista de Gamla Stan.

Stockholms Stadshus

Um dos salões do Conselho Municipal de Estocolmo
Depois de visitar o Conselho Municipal de Estocolmo, vale caminhar um pouco a oeste na avenida Norr Mälarstrand e chegar na parte que tem o calçadão em frente ao mar. Ali, sentamos para tomar uma cerveja e aproveitar os raios de sol e a vista dos barcos que trafegam pelo canal.

Calçadão da Norr Mälarstrand
Norrmalm e Östermalm
Do outro lado do canal do Conselho Municipal está a Estação Central de Estocolmo, maior estação rodoviária e ferroviária da Suécia, no bairro de Norrmalm. Retornando à praça Adolf Gustav onde est´a a Ópera, quem estiver já cansado de cultura e história, pode descansar a cabeça passeando pelas lojas modernas e restaurantes do movimentado calçadão da rua Drottninggatan. Se conseguir chegar até o final da rua, vai avistar um gostoso parque numa colina, onde fica o Observatório de Estocolmo, com (mais) vistas bonitas da cidade.

Estação Central de Estocolmo e Centro de Convenções
Mas, se quiser continuar o tour cultural, caminhe da praça Adolf Gustav a leste, atravessando o parque Kungsträdgården, até a Sinagoga da Congregação Judaica de Estocolmo (Judiska Församlingen i Stockholm), que infelizmente não conseguimos visitar por dentro.

Judiska Församlingen
Depois, atravesse o parque Berzelii para chegar no Teatro de Drama Real (Dramaten), construção em art noveau de 1908, com sua estátua aquecida a 37 graus em homenagem à atriz sueca Margaretha Krook.

Dramaten
Seguindo por essa avenida, passeie pelo calçadão da Strandvägen, repleta de cafés, bares e restaurantes e, se tiver tempo e vontade, visite o Museu Histórico de Estocolmo (Historiska Museet), um lugar que conta a história arqueológica e cultural sueca desde o período Mesolítico (Idade da Pedra) até os dias atuais. Fundado em 1866, sua coleção abriga objetos de arte e históricos reunidos por monarcas suecos desde o século XVI. A galeria dos Vikings e a Sala de Ouro são os pontos altos da visita. Ou atravesse a pequena ponte em direção à ilha dos museus, Djurgården.
Skeppsholmen
Seguindo da praça da Ópera em direção ao Museu Nacional (de arte), e atravessando a passagem de Skeppsholmsbron chega-se à pequena ilha de Skeppsholmen, que abriga, entre seus museus, o Museu de Brinquedos e o Museu de Arte Moderna, onde estão expostas obras importantes de artistas como Salvador Dalí, Pablo Picasso e Matisse. O barco que se vê na foto abaixo é na realidade um hotel flutuante que fica permanentemente ancorado ali. A ilha também oferece um ponto de vista fotográfico interessante de Gamla Stan e das enormes montanhas russas do Gröna Lund na ilha vizinha de Djurgården, o parque de diversões mais antigo da Suécia, de 15 hectares e 31 brinquedos.

Museu Nacional

Ilha de Skeppsholmen, seus museus e o barco-hotel

Parque de diversões de Gröna Lund Tivoli
Djurgården
Conhecida como “a ilha dos museus”, esta grande ilha vale um dia inteiro de passeio. É onde estão mais dez museus, entre eles o Viking Museum, o Nordiska Museet, o incrível e imperdível Vasa Museet e o museu ao ar livre Skansen. Todos eles estão inclusos na tarifa do Stockhom Pass, exceto o ABBA The Museum, interessante para quem é fã da antiga banda dos anos 1970. Fora tudo isso, há um parque verde enorme para se passear, fazer um piquenique, dar uma corridinha ou simplesmente sentar para admirar a flora e fauna locais.
O Museu Nórdico (Nordiska Museet) foi inaugurado em 1873 e é dedicado à história cultural e à etnografia da Suécia do início do período moderno (a partir de 1520) ao período contemporâneo. O acervo do Nordiska é impressionante, abrigando mais de 1,5 milhão de objetos em suas coleções. O arquivo do museu também abriga uma extensa coleção de documentos e aproximadamente 6 milhões de fotografias datadas da década de 1840 até os dias atuais.

Nordiska Museet
Se tiver pouco tempo, o museu mais importante da ilha é o Museu do Navio Vasa (Vasa Museet), a melhor atração de toda a cidade de Estocolmo. Construído entre 1626 e 1628, por ordens do Rei Gustav II Adolf, o Vasa era um dos mais poderosos navios de guerra da época, feito todo em madeira, com 58 canhões, mas que naufragou em sua viagem inaugural, a apenas 1300m do porto de saída. Ao que tudo indica, houve um erro de engenharia no projeto, com muito peso localizado na estrutura superior do casco, e ninguém teve coragem de enfrentar a impaciência do rei em inaugurá-lo. Em 1956, o navio foi localizado, mas seu resgate acabou ocorrendo só em 1961, praticamente intacto. Sua restauração manteve 98% da estrutura original. O nome Vasa foi uma homenagem ao avô do Rei Gustav II Adolfo, o Rei Gustav (Vasa) I da Suécia, que em 1523 resolveu tomar de volta a cidade de Estocolmo, na época controlada pela Dinamarca, forçando a saída e independência da Suécia da União de Kalmar (com Dinamarca e Noruega).

Vasa Museet

Detalhe no Vasa Museet – como eram/seriam aprisionados os reféns poloneses
Uma outra atração da ilha é o Museu ao Ar Livre Skansen, indicada para quem está viajando em família. Fundado em 1891, com 300 mil m², é o primeiro museu ao ar livre e zoológico da Suécia. Em suas instalações, busca mostrar o modo de vida nas diferentes partes do país antes da era industrial. O museu fica no alto de um morro e, quem quiser, pode usar um funicular para enfrentar a íngrime subida. Em sua área, há uma réplica perfeita de uma cidade do século XIX, onde atores vestidos com trajes típicos demonstram habilidades no trabalho executado no passado por artesãos, curtidores, sapateiros, ourives, padeiros e vidraceiros.
Para os fãs da renomada banda sueca, o ABBA The Museum é um local fundado em 2013, que exibe suas coleções em um ambiente contemporâneo e interativo. Foi inspirado no Museu dos Beattles, em Liverpool e é o lar permanente da exposição itinerante ABBAWORLD, que passou pela Europa e Austrália durante os anos de 2009 e 2011. O museu abriga figurinos utilizados no palco, que foram doados pelos membros da banda, e várias estações de áudio e vídeo interativas.
Drottningholm
Apesar do Palácio Real Kungliga Slottet ser a residência oficial da Família Real Sueca, o atual Rei Carlos XVI Gustavo e a brasileira Rainha Silvia moram em outro palácio, na ilha de Drottningholm. É um lugar estupendamente bonito e, quem quiser, pode visitar – há tours guiados de 4 a 5 horas que saem de carro ou barco de vários pontos de Norrmalm.
Curiosidade culinária
A comida sueca mais famosa da Suécia – e de pior cheiro e gosto – é o Surströmming, um arenque do Báltico fermentado em salmoura com pouco sal. Tem um cheiro fortíssimo e sabor muito ácido, que pouca gente consegue aguentar. O arenque é fermentado em barris durante o período de um a dois meses, em seguida é enlatado, mas não pasteurizado ou esterilizado e sua fermentação continua dentro das latas, fazendo-as inchar após aproximadamente seis meses. Essas latas, quando abertas, soltam o gás acumulado, com um forte cheiro característico. Por isso, quem conhece, nunca abre uma lata dessas dentro de casa mas sempre ao ar livre. Há diversos perfis no Instagram que ilustram cenas engraçadas de gente abrindo uma lata de Surströmming. É mesmo um grande desafio!

Barraca de arenques
Conclusão
Estocolmo é uma cidade fascinante. Apesar das grandes obras que atrapalharam um pouco a visibilidade e circulação pelas ruas – sabemos que a Prefeitura precisa aproveitar os meses quentes e secos para conseguir completá-las – ainda há muita coisa para ver e conhecer na cidade, depois de quatro dias. Sejam os museus, restaurantes, shows ou até para estudar um pouco mais sobre o país e sua história.
Esse post é parte de uma mesma viagem a Oslo, Bergen e Copenhagen.
Crédito das fotos: Fabio Tagnin