Copenhagen – Dinamarca

Neste roteiro de 15 dias em julho de 2022 planejamos visitar as capitais de três países da Escandinávia: Noruega, Suécia e Dinamarca, mais uma extensão em Bergen e arredores, na Noruega. Começando o tour por Oslo, capital da Noruega, seguimos de trem a Estocolmo, na Suécia, depois também de trem a Copenhagen, na Dinamarca. De lá, voamos a Bergen, na Noruega, alugamos um carro, demos a volta pelas cidades ao redor da geleira do Parque Nacional de Jostedalsbreen, e seguimos ainda de carro de volta a Oslo, de onde voamos a São Paulo.

Separei a viagem em 4 partes:

Copenhagen

A capital da Dinamarca é hoje um lugar moderno, rico em design e arquitetura e bastante divertido. Suas ruas fervilham com uma exótica mistura de jovens universitários, turistas e curiosos habitantes locais. Pequena, é possível fazer tudo a pé ou de bicicleta, o principal meio de locomoção dos habitantes locais. A cidade tinha que fazer parte deste roteiro e foi uma das melhores partes da nossa viagem.

De Estocolmo, pegamos um trem na Estação Central e chegamos à Estação Central de Bernstorffsgade, em Copenhagen. Nos hospedamos no Wide Hotel, bem perto da estação, então pudemos ir a pé até lá. Apesar do lugar ser um hotel boutique e havermos reservado dois quartos, um deles com cama de casal e outro com duas de solteiro, ao chegarmos lá fomos informados de que o hotel não possuía camas de solteiro. E o quarto era minúsculo. Os jovens tiveram que dividir a cama nas três noites em que lá ficamos e tivemos todos que tomar cuidado para não tropeçar nas malas que foram abertas no chão.

Nada disso, claro, impediu que curtíssemos a vida na cidade. Na chegada, deu tempo de fazer o check-in e sair para jantar em um restaurante ali por perto, admirando a animação que vinha do vizinho Parque de Diversões Tivoli Gardens, o segundo parque mais antigo do mundo, inaugurado em 1843.

Nosso primeiro dia inteiro em Copenhagen começou com um café da manhã (caro mas delicioso) em uma boulangerie local. Seguimos em direção ao Frederiksholms Kanal, passando pelo Museu Nacional da Dinamarca (Nationalmuseet), chegando na Ponte de Mármore (Marmorbroen), que dá no Palácio de Christiansborg. Não entramos no museu, nem atravessamos a ponte, pois a passagem estava fechada para reformas.

Ponte de Mármore (Marmorbroen)

Contornando o canal, paramos sobre a ponte Højbro para ver a escultura aquática Agnete and the Merman. A escultora dinamarquesa Suste Bonnén criou a obra para ilustrar o conto de uma jovem chamada Agnete, que passeava à beira-mar quando um tritão emergiu das águas e lhe pediu em casamento. A moça concorda em morar com o tritão e o casal tem sete filhos. Tudo ia bem, até que um dia Agnete ouve o som dos sinos de uma igreja e, com a permissão do tritão, retorna à terra para rever sua antiga vida. Porém, Agnete decide não voltar mais a morar no mar, abandonando sua famíla, que sente muito a sua falta. A escultura subaquática retrata seu marido e seus sete filhos abandonados, chegando à superfície, com saudades da mãe. Há alguns passeios de barco no canal em que se pode ver mais de perto as estátuas debaixo d’água.

Escultura Agnete and the Merman

Seguindo pela avenida, avista-se o Palácio de Christian (Christiansborg Slot). No século XII, o bispo Absalon ordenou a construção de um forte, no povoado de Havn, e assim a cidade cresceu à sua volta. Hoje nada resta deste antigo forte, a não ser o fosso e parte de sua muralha de proteção, pois foi tudo derrubado em batalha no ano de 1369. Nos anos seguintes, o povoado foi erguendo ali outras construções, até que o Rei Christian VI decidiu construir no local um castelo em estilo neobarroco. A edificação resistiu cerca de 50 anos mas foi destruída por um incêndio. Persistentes, outro castelo foi erguido no local, mas este também se incendiou. O castelo de hoje, terceiro da série, data de 1928 e ocupou o arquiteto Thorvald Jørgensen por 22 anos em sua construção. É a sede do Parlamento Dinamarquês, da Suprema Corte Dinamarquesa, dos escritórios do Primeiro-Ministro e Apartamentos Reais. Seus salões são usados pela rainha dinamarquesa em eventos oficiais, audiências e banquetes.

Castelo de Christian (Christiansborg Slot)

Mais um pouco pela avenida e se vê o edifício da antiga Bolsa de Valores (Børsen), construído durante o reinado de Christian IV, em 1625, hoje ocupado pela Câmara Dinamarquesa de Comércio. Em sua torre espiralada estão esculpidos quatro caudas de dragões intercaladas. Infelizmente, durante as obras de renovação para a comemoração dos 400 anos do empreendimento, em abril de 2024 o edifício pegou fogo e a torre foi completamente danificada. A Câmara de Comércio diz que pode reconstruir em 5 anos, nos moldes originais.

Antiga Bolsa de Valores (Børsen)

O passeio continua pela Havnepromenade, beirando o canal de Havne, até a ponte Inderhavnsbroen. De lá já se avista o moderno teatro Det Kongelige Teater – Skuespilhuset, acessível apenas dando-se a volta no pequeno canal de Nyhavn.

Det Kongelige Teater – Skuespilhuset

No canal, o Porto de Nyhavn impressiona com suas construções coloridas carcterísticas, bares e restaurantes sempre cheios de gente, e embarcações antigas ancoradas. O porto já foi muito movimentado, recebendo navios do mundo todo, que descarregavam sua carga para abastecer o país. Na época, era uma área degradada, cheia de marinheiros, prostitutas e bares populares, mas recententemente passou por uma revitalização e hoje é o ponto turístico mais popular de Copenhagen.

Porto de Nyhavn

O movimento no porto é intenso

Do outro lado da ponte Inderhavnsbroen está uma pequena área repleta de restaurantes e barracas de comida de rua, onde o povo toma sol nos meses quentes, como se fosse uma praia de cimento na beira do canal. É muito gostoso acompanhar os grupos de pessoas ali divertindo-se, conversando e curtindo o calor e o pôr do sol.

Jovens tomando sol e passeando de caiaque

Pausa para uma leitura na hora do almoço

No final do pequeno canal de Nyhavn, fica a maior praça da cidade, Kongens Nytorv, a Nova Praça do Rei, considerada uma das mais imponentes da Europa. Em seus arredores está o Palácio de Charlottenborg (Kunsthal Charlottenborg), abrigando a Academia Real de Artes, e o tradicional Hotel D’Angleterre.

Kongens Nytorv, a Nova Praça do Rei, com a Embaixada da França atrás

Na praça também está o Teatro Real (Det Kongelige Teater), com uma programação intensa de óperas, ballets e orquestras. Se tiver uma noite livre na cidade, busque no site do teatro o calendário para adquirir ingressos.

Teatro Real (Det Kongelige Teater)

Dando a volta no Porto de Nyhavn, passamos por trás do teatro Skuespilhuset e chegamos às Escadas do Beijo, onde um bocado de gente deita também para tomar um sol, um sorvete ou saborear alguma bebida enquanto aproveita a companhia de amigos, o som de alguma música ou simplesmente pára na hora do almoço para lanchar.

Escadas do Beijo

Logo em frente às escadas, que terminam na água, é bom dizer, está o parque Amaliehaven, projetado pelo arquiteto belga Jean Delogne, que serve de jardim para o Palácio de Amalienborg. Construído a mando do Rei Frederik V, em meados do século XVIII, foi erguido em comemoração do tri-centenário da dinastia de Oldenburg no trono sueco. O complexo palaciano é formado por quatro edifícios iguais, de fachada côncava, dispostos simetricamente ao redor de uma praça octogonal, que exibe em seu centro uma estátua equestre do próprio Rei Frederik V. Seus edifícios já foram residência de muitos reis que o sucederam. Se estiver por lá perto do meio dia, pode presenciar a troca de guardas, uma cerimônia diferente e animada, que dura uns 15 minutos.

Palácio de Amalienborg

Troca de guarda

Subindo a rua desta praça, chegamos na famosa Igreja de Mármore (Frederiks Kirke), uma igreja luterana de estilo barroco do século XVIII, que tem a cúpula mais alta de toda a Escandinávia, inspirada na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Suas obras iniciaram em 1749, também a mando do Rei Frederik V, mas só terminaram 150 anos depois. Em seu magnífico interior de mármore norueguês, com 31m de diâmetro e 50m de altura, a cúpula exibe pinturas dos 12 apóstolos intercaladas com medalhões representando sacramentos.

Igreja de Mármore (Frederiks Kirke)

Interior da cúpula da Igreja de Mármore (Frederiks Kirke)

Se retornarmos aos jardins de Amaliehaven e seguirmos pela promenade de Larsens (Larsen Plads), vamos nos deparar com uma enorme escultura de Davi, de Michelângelo, instalada ali em 1860, em frente ao The Royal Cast Collection (Den Kongelige Afstøbningssamling), que abriga em seu acervo uma extensa coleção de mais de 2000 moldes de esculturas famosas.

Davi, de Michelângelo

Seguimos, até chegarmos no Kastellet (Cidadela), um forte em formato de estrela de cinco pontas, cercado de água por todos os lados, construído em 1626 pelo Rei Christian IV para proteger a cidade de ataques provenientes do mar. Em 1892 a área toda foi transformada em um parque, mas seu quartel central continua ativo para treinamento de soldados. No canto sul está a icônica Igreja de Saint Albans, e no miolo da área um antigo Moinho e prédios baixos pintados nos tons ocres típicos da cidade.

Igreja de Saint Albans

Chama a atenção ali ao lado da igrejinha uma grande fonte com uma estátua no topo. A escultura é o maior monumento de Copenhagen e ilustra o mito de Gefion, a deusa que arou a ilha de Zelândia (a maior ilha da Dinamarca, onde fica Copenhagen) para fora do continente da Suécia. O mito conta que o rei Gylfe, que controlava toda a área que hoje é a Suécia, ofereceu a Gefion toda a terra que ela fosse capaz de arar com quatro bois, em um único dia e uma noite. Gefion então tomou seus animais e arou a terra com tanta força e afinco, que deslocou toda essa área para o mar, deixando em seu lugar o grande lago de Vänem – e olha que vendo o mapa parece mesmo!

Escultura de Gefion e seus quatro bois

E por falar em mitos, mais para a frente no Kastellet, sentada languidamente sobre uma pedra, é que se encontra a imensamente famosa e tímida estátua de bronze da Pequena Sereia, criada por Edward Eriksen em 1913, representando a fábula de Hans Christian Andersen, eternizada nos filmes da Disney. Dizem que, ao assistir uma performance dessa fábula no Teatro Real Dinamarquês, Carl Jacobsen, filho do fundador da cervejaria Carlsberg, encomendou a obra para doar ao país. Se trouxe sorte para a Dinamarca, não dá para dizer, mas a família Jacobsen fez uma grande fortuna.

Escultura da Pequena Sereia

Saindo do Kastellet pela avenida Øster Voldgade, dentro do parque Østre Anlæg, fica o Museu Nacional de Arte da Dinamarca (SMK – Statens Museum for Kunst) e o Museu de História Natural (Statens Naturhistoriske Museum). Logo em frente está o bonito Castelo de Rosenborg (Rosenborg Slot) e seus jardins floridos, que clamam por um passeio, um piquenique, ou só uma voltinha. O interior deste castelo de mais de 400 anos pode ser visitado e, entre suas coleções, estão diversos tesouros da monarquia, como as jóias da coroa.

Castelo de Rosenborg (Rosenborg Slot)

E deixando os jardins do castelo pela rua Landemærket, cheia de lojas e restaurantes, chega-se à Igreja Trinitatis (Trinitatis Kirke) e sua Torre Redonda (Rundetarn), de cujo observatório é possivel ver os quatro cantos da cidade de Copenhagen. A subida é paga, mas barata, e o caminho é feito por uma rampa em espiral, não há escadas.

Torre Redonda (Rundetarn) da Igreja Trinitatis (Trinitatis Kirke)

Interior da Igreja Trinitatis (Trinitatis Kirke)

De lá, desça a rua Købmagergade em direção ao calçadão da rua Strøget, uma das maiores ruas comerciais para pedestres de toda a Europa. Em sua extensão de mais de 1 Km encontramos de tudo um pouco, de roupas a restaurantes, de souvenires a brinquedos, de móveis a objetos de design. Dá para passar algumas horas namorando vitrines, parando para tomar uma cerveja, ou fazendo umas comprinhas.

O calçadão termina na Praça Municipal (Rådhuspladsen), um grande espaço aberto em frente à Câmara Municipal (Københavns Rådhus), usado para apresentações, concertos e outras comemorações. No cantinho da praça, mais uma homenagem ao escritor da Pequena Sereia: a estátua do autor Hans Christian Andersen, feita pelo artista Henry Luckow-Nielsen, olhando para a entrada do Parque Tivoli.

Estátua de Hans Christian Andersen

A sudeste da praça, fica a Gliptoteca Ny Carlsberg (Ny Carlsberg Glyptotek), um museu fantástico que reune esculturas antigas e obras francesas e dinamarquesas do século XIX. A coleção de mais de 10 mil peças de Carl Jacobsen (1842-1914) , filho do criador da cervejaria Carlsberg, J. C. Jacobsen, foi organizada nesta edificação em 1888 e cobre nada menos que 6 mil anos de história. Nota: a cervejaria que deu origem aos fundos reunidos na Fundação Ny Carlsberg, que sustenta o museu, é hoje a terceira maior do mundo, mas curiosamente menos de 5% de sua produção é consumida na Dinamarca!

Gliptoteca Ny Carlsberg (Ny Carlsberg Glyptotek)

Christiania

A uns 25 minutos a pé da Gliptoteca, atravessando o canal a sudeste pela passarela de Lille Langebro, e embrenhando-se pelas ruazinhas de Christianshavns, chega-se à imponente Igreja de Nosso Salvador (Vor Frelsers Kirke), projetada pelo arquiteto dinamarquês Lambert von Haven e concluída em 1696. Curiosamente, sua torre de carvalho foi arquitetada por outra pessoa, Lauritz de Thurah, e possui uma escada em espiral de 400 degraus, 150 deles externos, com parapeito de ferro dourado contrastando com o vermelho da construção. Para quem quer um pequeno desafio, é possível subir na torre para ter uma vista espetacular da cidade.

Torre da Igreja de Nosso Salvador (Vor Frelsers Kirke)

Se ainda estiver sobrando adrenalina, vale a visita diurna a Christiania, um refúgio comunitário fechado, para pessoas com mentes abertas e jeitos exóticos. Sua história vem de 1971, quando um grupo de hippies ocupou um quartel abandonado e declarou a área de 85 hectares como “cidade livre”, em um modelo anarquista. Logo em seguida, centenas de jovens se juntaram ao grupo original e, desde então, o governo tem reconhecido Christiania como uma “experiência social” e tem tratado o espaço de modo separado do resto da cidade. É claro que, por ser um canto com grandes liberdades, não tardou a circular por ali todo tipo de drogas e psicotrópicos, seguidos da contumaz violência e delinquência que esses ambientes fomentam. A polícia, com dificuldades em conter os problemas, fez vista grossa, deixando o lugar se auto-organizar. Visite durante o dia, preferivelmente em grupo, e absorva o local com os olhos, pois fotografias são proibidas.

Uma das lojas de Christiania (shhh, não pode fotografar gente)

Conclusão

Dois dias inteiros é pouco para se conhecer bem a cidade e seus pontos de interesse. Cada um tem uma história, um significado, e simplesmente andar pelas ruas e fotografar, como muitos fazem, não traz a sensação de completude e satisfação de ter realmente vivido Copenhagen. Vale ler um pouco antes sobre a história do país, da cidade, conhecer seus principais autores, mentores e referências. Como disse no início deste texto, a cidade foi uma das melhores partes da viagem toda, pelo seu alto astral e jovialidade. Fica sempre um gostinho de quero mais!

Esse post é parte de uma mesma viagem a Oslo, Bergen e Estocolmo.

Crédito das fotos: Fabio Tagnin

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